OpenEHR: diferenças entre revisões

Fonte: aprendis
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{{Terminologias e Standards}}
Sempre que consultamos um médico pela primeira vez perguntam-nos sobre o nosso histórico de saúde. São questões sobre doenças anteriores e atuais, medicamentos em uso, alergias e até mesmo sobre a saúde dos nossos familiares. Grande parte dessas informações já existem, mas estão fragmentadas e dispersas pelos diversos lugares por onde já fomos atendidos.
Seria ótimo poder reunir essas preciosas informações e disponibilizá-las no momento dos cuidados de saúde. No entanto, esta não é uma tarefa nada fácil. O problema é que os sistemas de informação em saúde (SIS) são desenvolvidos por diferentes empresas e cada empresa segue um padrão próprio para definir e estruturar os dados clínicos. Ao fim, cada sistema fala uma língua diferente. Mesmo existindo sistemas que criam um registo mínimo de saúde com base na agregação de informação, há sempre uma grande quantidade de informação que fica naturalmente por integrar.
A solução desse problema poderia ser a utilização de um único sistema para todos, mas seria uma situação utópica e que iria limitar a especialização de diferentes aplicativos. O que realmente importa não são os sistemas mas sim utilizar um padrão em comum para os dados clínicos. Tal padrão de dados clínicos possibilita a construção de diferentes SIS, mas todos a falar a mesma língua. Este é o propósito do openEHR.
A interoperabilidade dos dados clínicos continua a ser um dos principais desafios enfrentados por instituições, profissionais e governos no que diz respeito transformação digital em saúde. Os sistemas de Registo de Saúde Eletrónico (RSE) tradicionais, para além de frequentemente marcados por falta de interoperabilidade, também apresentam interfaces desatualizadas, altos custos de manutenção e estruturas rígidas que dificultam a sua adaptação a novos requisitos clínicos. Além disso, muitos sistemas de informação apresentação fragmentação de dados, dependência tecnológica de fornecedores específicos e com pouca capacidade de integração com novos dispositivos, plataformas cloud, aplicações móveis ou fluxos clínicos complexos. Neste cenário, surge o openEHR como uma resposta arquitetónica e semântica a estas falhas, propondo uma abordagem centrada na flexibilidade estrutural, na participação ativa dos profissionais de saúde e na longevidade dos dados clínicos.
A interoperabilidade dos dados clínicos continua a ser um dos principais desafios enfrentados por instituições, profissionais e governos no que diz respeito transformação digital em saúde. Os sistemas de Registo de Saúde Eletrónico (RSE) tradicionais, para além de frequentemente marcados por falta de interoperabilidade, também apresentam interfaces desatualizadas, altos custos de manutenção e estruturas rígidas que dificultam a sua adaptação a novos requisitos clínicos. Além disso, muitos sistemas de informação apresentação fragmentação de dados, dependência tecnológica de fornecedores específicos e com pouca capacidade de integração com novos dispositivos, plataformas cloud, aplicações móveis ou fluxos clínicos complexos. Neste cenário, surge o openEHR como uma resposta arquitetónica e semântica a estas falhas, propondo uma abordagem centrada na flexibilidade estrutural, na participação ativa dos profissionais de saúde e na longevidade dos dados clínicos.


O que é o openEHR?
'''[[#oque-e-openehr|O que é o openEHR?]]'''
O openEHR é um conjunto de especificações abertas, baseada em normas internacionais, desenvolvida para auxiliar a criação e manutenção de RSE. Define um conjunto de modelos, linguagens e regras para o armazenamento, gestão, recuperação e troca de dados de saúde, com enfoque na semântica, na modularidade e na longevidade da informação clínica. É um padrão computacional que separa a lógica da informação técnica do conhecimento clínico, permitindo que a evolução científica e prática não obrigue a alterar a infraestrutura tecnológica.
O openEHR é um conjunto de especificações abertas, baseada em normas internacionais, desenvolvida para auxiliar a criação e manutenção de RSE. Define um conjunto de modelos, linguagens e regras para o armazenamento, gestão, recuperação e troca de dados de saúde, com enfoque na semântica, na modularidade e na longevidade da informação clínica. É um padrão computacional que separa a lógica da informação técnica do conhecimento clínico, permitindo que a evolução científica e prática não obrigue a alterar a infraestrutura tecnológica.
O seu propósito fundamental é definir os componentes de uma plataforma computacional de saúde que responda a desafios centrais da área, nomeadamente:
O seu propósito fundamental é definir os componentes de uma plataforma computacional de saúde que responda a desafios centrais da área, nomeadamente:
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Desenvolvida por uma fundação sem fins lucrativos e sustentada em colaboração internacional, o openEHR caracteriza-se por promover uma arquitetura de dois níveis (Dual model), que separa o modelo técnico dos dados da representação do conhecimento clínico. Esta separação confere ao sistema flexibilidade e capacidade de adaptação, permitindo que os dados se mantenham válidos mesmo quando as práticas clínicas ou os sistemas tecnológicos evoluem.
Desenvolvida por uma fundação sem fins lucrativos e sustentada em colaboração internacional, o openEHR caracteriza-se por promover uma arquitetura de dois níveis (Dual model), que separa o modelo técnico dos dados da representação do conhecimento clínico. Esta separação confere ao sistema flexibilidade e capacidade de adaptação, permitindo que os dados se mantenham válidos mesmo quando as práticas clínicas ou os sistemas tecnológicos evoluem.


Estrutura e funcionamento
'''[[#estrutura-e-funcionamento|Estrutura e funcionamento]]'''
A arquitetura do openEHR consiste em um modelo de dois níveis (Dual model). Por um lado, temos o Reference Model (RM), que define as estruturas genéricas, fixas e tecnicamente orientadas dos dados (classes como, por exemplo, Composition, Section, Entry, Observation, Evaluation, entre outras), que permitem organizar registos clínicos de forma coerente. Estas classes são independentes do domínio clínico e representam elementos como eventos, instruções ou observações, independentemente do seu conteúdo específico.
A arquitetura do openEHR consiste em um modelo de dois níveis (Dual model). Por um lado, temos o Reference Model (RM), que define as estruturas genéricas, fixas e tecnicamente orientadas dos dados (classes como, por exemplo, Composition, Section, Entry, Observation, Evaluation, entre outras), que permitem organizar registos clínicos de forma coerente. Estas classes são independentes do domínio clínico e representam elementos como eventos, instruções ou observações, independentemente do seu conteúdo específico.
Por outro lado, o Model of Meaning é constituído por archetypes e templates. Os arquétipos (Archetypes) são modelos formais e detalhados de conceitos clínicos – por exemplo, um modelo de “pressão arterial” especifica todos os elementos, unidades, codificações e restrições semânticas que definem esse conceito. Os templates, por sua vez, permitem combinar e adaptar múltiplos archetypes a contextos de casos de uso, como uma nota de alta hospitalar ou um formulário de rastreio oncológico.
Por outro lado, o Model of Meaning é constituído por archetypes e templates. Os arquétipos (Archetypes) são modelos formais e detalhados de conceitos clínicos – por exemplo, um modelo de “pressão arterial” especifica todos os elementos, unidades, codificações e restrições semânticas que definem esse conceito. Os templates, por sua vez, permitem combinar e adaptar múltiplos archetypes a contextos de casos de uso, como uma nota de alta hospitalar ou um formulário de rastreio oncológico.
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A especificação não se limita à modelação da informação, tendo também em consideração o versionamento, em que cada alteração ao conteúdo clínico ou à estrutura dos modelos é registada de forma imutável e auditável e, uma linguagem própria de consulta – a AQL (Archetype Query Language) –, tudo com o objetivo de tornar os RSE mais reutilizáveis, compreensíveis e, permitir a rastreabilidade clínica, jurídica e científica dos registos.
A especificação não se limita à modelação da informação, tendo também em consideração o versionamento, em que cada alteração ao conteúdo clínico ou à estrutura dos modelos é registada de forma imutável e auditável e, uma linguagem própria de consulta – a AQL (Archetype Query Language) –, tudo com o objetivo de tornar os RSE mais reutilizáveis, compreensíveis e, permitir a rastreabilidade clínica, jurídica e científica dos registos.


Breve história e evolução
'''[[#breve-historia-e-evolucao|Breve história e evolução]]'''
As origens do openEHR remontam ao início da década de 1990, quando o Dr. Alain Maskens (oncologista belga) e o Dr. Sam Heard (clínico geral australiano e professor no St. Bartholomew’s, em Londres) lideraram um consórcio para desenvolver um modelo genérico de registo eletrónico de saúde. Em 1991, formaram o consórcio GEHR – Good European Health Record – coordenado pela Faculdade de Medicina do St. Bartholomew’s Hospital, com o Professor David Ingram como Diretor do Projeto e o apoio de Lesley Southgate. A proposta foi aprovada e o projeto teve início oficial em janeiro de 1992, integrando sete parceiros industriais, académicos e profissionais.
As origens do openEHR remontam ao início da década de 1990, quando o Dr. Alain Maskens (oncologista belga) e o Dr. Sam Heard (clínico geral australiano e professor no St. Bartholomew’s, em Londres) lideraram um consórcio para desenvolver um modelo genérico de registo eletrónico de saúde. Em 1991, formaram o consórcio GEHR – Good European Health Record – coordenado pela Faculdade de Medicina do St. Bartholomew’s Hospital, com o Professor David Ingram como Diretor do Projeto e o apoio de Lesley Southgate. A proposta foi aprovada e o projeto teve início oficial em janeiro de 1992, integrando sete parceiros industriais, académicos e profissionais.
Durante os anos seguintes, o GEHR desenvolveu uma arquitetura pioneira baseada em modelação orientada a objetos, que influenciou a norma CEN ENV 12265 e fomentou os primeiros esforços de padronização de registos clínicos na Europa. Figuras como o Dr. Dipak Kalra e David Lloyd desempenharam papéis centrais no grupo clínico e técnico, respetivamente. O consultor Tom Beale juntou-se em 1993, dando origem ao primeiro modelo de objetos GEHR. Em 1995, Ingram tornou-se Professor de Informática em Saúde na UCL, liderando a criação do CHIME (Centre for Health Informatics and Multiprofessional Education).
Durante os anos seguintes, o GEHR desenvolveu uma arquitetura pioneira baseada em modelação orientada a objetos, que influenciou a norma CEN ENV 12265 e fomentou os primeiros esforços de padronização de registos clínicos na Europa. Figuras como o Dr. Dipak Kalra e David Lloyd desempenharam papéis centrais no grupo clínico e técnico, respetivamente. O consultor Tom Beale juntou-se em 1993, dando origem ao primeiro modelo de objetos GEHR. Em 1995, Ingram tornou-se Professor de Informática em Saúde na UCL, liderando a criação do CHIME (Centre for Health Informatics and Multiprofessional Education).
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Em 2024, grandes empresas tecnológicas como a Microsoft passaram a integrar o ecossistema openEHR como parceiros estratégicos, sinalizando a maturidade e a relevância crescente da iniciativa.
Em 2024, grandes empresas tecnológicas como a Microsoft passaram a integrar o ecossistema openEHR como parceiros estratégicos, sinalizando a maturidade e a relevância crescente da iniciativa.


Governação e comunidade
'''[[#governacao-e-comunidade|Governação e comunidade]]'''
A governação do openEHR é assegurada por uma estrutura clara e transparente, organizada em programas e liderada por uma direcção eleita. A entidade legal da iniciativa é a openEHR Community Interest Company, uma organização sem fins lucrativos e com activos bloqueados, registada no Reino Unido. O seu funcionamento é sustentado por uma comunidade internacional de membros subscritores, tanto individuais como institucionais, que elegem a direcção e participam ativamente nos processos de decisão.
A governação do openEHR é assegurada por uma estrutura clara e transparente, organizada em programas e liderada por uma direcção eleita. A entidade legal da iniciativa é a openEHR Community Interest Company, uma organização sem fins lucrativos e com activos bloqueados, registada no Reino Unido. O seu funcionamento é sustentado por uma comunidade internacional de membros subscritores, tanto individuais como institucionais, que elegem a direcção e participam ativamente nos processos de decisão.
A estrutura organizativa do openEHR inclui quatro programas principais:
A estrutura organizativa do openEHR inclui quatro programas principais:

Revisão das 17h33min de 29 de junho de 2025

A interoperabilidade dos dados clínicos continua a ser um dos principais desafios enfrentados por instituições, profissionais e governos no que diz respeito transformação digital em saúde. Os sistemas de Registo de Saúde Eletrónico (RSE) tradicionais, para além de frequentemente marcados por falta de interoperabilidade, também apresentam interfaces desatualizadas, altos custos de manutenção e estruturas rígidas que dificultam a sua adaptação a novos requisitos clínicos. Além disso, muitos sistemas de informação apresentação fragmentação de dados, dependência tecnológica de fornecedores específicos e com pouca capacidade de integração com novos dispositivos, plataformas cloud, aplicações móveis ou fluxos clínicos complexos. Neste cenário, surge o openEHR como uma resposta arquitetónica e semântica a estas falhas, propondo uma abordagem centrada na flexibilidade estrutural, na participação ativa dos profissionais de saúde e na longevidade dos dados clínicos.

O que é o openEHR? O openEHR é um conjunto de especificações abertas, baseada em normas internacionais, desenvolvida para auxiliar a criação e manutenção de RSE. Define um conjunto de modelos, linguagens e regras para o armazenamento, gestão, recuperação e troca de dados de saúde, com enfoque na semântica, na modularidade e na longevidade da informação clínica. É um padrão computacional que separa a lógica da informação técnica do conhecimento clínico, permitindo que a evolução científica e prática não obrigue a alterar a infraestrutura tecnológica. O seu propósito fundamental é definir os componentes de uma plataforma computacional de saúde que responda a desafios centrais da área, nomeadamente: • Complexidade da informação clínica e dos fluxos de trabalho; • Constante mudança dos requisitos clínicos; • Necessidade de um registo centrado no utente; • Integração entre diferentes fornecedores de software e componentes. A sua proposta não visa apenas a interoperabilidade técnica (como o HL7), mas também a interoperabilidade semântica e computacional, sustentando aplicações como sistemas de apoio à decisão, integração com dispositivos móveis, medicina personalizada e inteligência artificial. Desenvolvida por uma fundação sem fins lucrativos e sustentada em colaboração internacional, o openEHR caracteriza-se por promover uma arquitetura de dois níveis (Dual model), que separa o modelo técnico dos dados da representação do conhecimento clínico. Esta separação confere ao sistema flexibilidade e capacidade de adaptação, permitindo que os dados se mantenham válidos mesmo quando as práticas clínicas ou os sistemas tecnológicos evoluem.

Estrutura e funcionamento A arquitetura do openEHR consiste em um modelo de dois níveis (Dual model). Por um lado, temos o Reference Model (RM), que define as estruturas genéricas, fixas e tecnicamente orientadas dos dados (classes como, por exemplo, Composition, Section, Entry, Observation, Evaluation, entre outras), que permitem organizar registos clínicos de forma coerente. Estas classes são independentes do domínio clínico e representam elementos como eventos, instruções ou observações, independentemente do seu conteúdo específico. Por outro lado, o Model of Meaning é constituído por archetypes e templates. Os arquétipos (Archetypes) são modelos formais e detalhados de conceitos clínicos – por exemplo, um modelo de “pressão arterial” especifica todos os elementos, unidades, codificações e restrições semânticas que definem esse conceito. Os templates, por sua vez, permitem combinar e adaptar múltiplos archetypes a contextos de casos de uso, como uma nota de alta hospitalar ou um formulário de rastreio oncológico. Este modelo assegura que o significado clínico dos dados é compreendido não apenas pelo software que os gere, mas também por sistemas terceiros, profissionais de saúde e até algoritmos de inteligência artificial. A especificação não se limita à modelação da informação, tendo também em consideração o versionamento, em que cada alteração ao conteúdo clínico ou à estrutura dos modelos é registada de forma imutável e auditável e, uma linguagem própria de consulta – a AQL (Archetype Query Language) –, tudo com o objetivo de tornar os RSE mais reutilizáveis, compreensíveis e, permitir a rastreabilidade clínica, jurídica e científica dos registos.

Breve história e evolução As origens do openEHR remontam ao início da década de 1990, quando o Dr. Alain Maskens (oncologista belga) e o Dr. Sam Heard (clínico geral australiano e professor no St. Bartholomew’s, em Londres) lideraram um consórcio para desenvolver um modelo genérico de registo eletrónico de saúde. Em 1991, formaram o consórcio GEHR – Good European Health Record – coordenado pela Faculdade de Medicina do St. Bartholomew’s Hospital, com o Professor David Ingram como Diretor do Projeto e o apoio de Lesley Southgate. A proposta foi aprovada e o projeto teve início oficial em janeiro de 1992, integrando sete parceiros industriais, académicos e profissionais. Durante os anos seguintes, o GEHR desenvolveu uma arquitetura pioneira baseada em modelação orientada a objetos, que influenciou a norma CEN ENV 12265 e fomentou os primeiros esforços de padronização de registos clínicos na Europa. Figuras como o Dr. Dipak Kalra e David Lloyd desempenharam papéis centrais no grupo clínico e técnico, respetivamente. O consultor Tom Beale juntou-se em 1993, dando origem ao primeiro modelo de objetos GEHR. Em 1995, Ingram tornou-se Professor de Informática em Saúde na UCL, liderando a criação do CHIME (Centre for Health Informatics and Multiprofessional Education). Com o encerramento do GEHR em 1994, iniciou-se o projeto Synapses, liderado também por Ingram e que contou com a Siemens e outros grandes parceiros. Introduziu o conceito de modelo duplo, com separação entre a estrutura e o conteúdo clínico, e permitiu a implementação de servidores clínicos piloto por toda a Europa. Em 1996, na Austrália, Sam Heard e Tom Beale revigoraram os princípios do GEHR, desenvolvendo o modelo de objetos GEHR Australia, com a abordagem arquetípica e foco na modelação de dois níveis. Este trabalho culminou no chamado sistema arquetípico GEHR, com contribuições relevantes de Peter Schloeffel e parcerias com a DSTC. A ideia da openEHR Foundation foi conceptualizada em 1998, com o intuito de fundir os esforços da UCL e da Austrália numa estrutura de código aberto e de elevada qualidade clínica. Em 2001, uma reunião internacional em Londres juntou Heard, Beale, Schloeffel e Kalra, alinhando metodologias e confirmando a compatibilidade das abordagens, formalizando assim o nascimento da openEHR Foundation. A Fundação foi oficialmente constituída em 2003 como uma entidade sem fins lucrativos e com ativos bloqueados, com sede na UCL, com o objetivo de levar a missão do openEHR a uma escala mais ampla. Entre 2003 e 2014, o foco foi a consolidação técnica, desenvolvimento das estruturas de governação e envolvimento com organismos internacionais. Em 2014, iniciou-se uma nova fase com a criação de uma estrutura formal de membros e de um conselho de administração eleito, culminando em 2018 na transição da fundação para uma Community Interest Company (CIC) sediada em Londres. A CIC continua a deter a propriedade intelectual e garante a continuidade dos princípios de abertura, independência e envolvimento comunitário que definem o openEHR. O openEHR tem evoluído com base em contribuições académicas, clínicas e industriais de vários países. Tem influenciado diretamente normas como a ISO EN 13606 e estabeleceu, em 2021, uma parceria estratégica com a HL7 para promover a interoperabilidade entre o openEHR e o FHIR, outro standard internacional com grande adesão para troca de dados em saúde. Em 2024, grandes empresas tecnológicas como a Microsoft passaram a integrar o ecossistema openEHR como parceiros estratégicos, sinalizando a maturidade e a relevância crescente da iniciativa.

Governação e comunidade A governação do openEHR é assegurada por uma estrutura clara e transparente, organizada em programas e liderada por uma direcção eleita. A entidade legal da iniciativa é a openEHR Community Interest Company, uma organização sem fins lucrativos e com activos bloqueados, registada no Reino Unido. O seu funcionamento é sustentado por uma comunidade internacional de membros subscritores, tanto individuais como institucionais, que elegem a direcção e participam ativamente nos processos de decisão. A estrutura organizativa do openEHR inclui quatro programas principais: • Specification Program – Responsável pelo desenvolvimento técnico das especificações openEHR; • Clinical Modelling Program – Supervisiona a criação e revisão dos modelos clínicos (archetypes e templates); • Software Program – Promove o desenvolvimento de software de referência e ferramentas open-source; • Community Program – Apoia a participação da comunidade e iniciativas educativas e de adoção global. Cada programa tem líderes nomeados e opera com equipas abertas, sendo as decisões tomadas com base em princípios de abertura, colaboração e revisão por pares. A openEHR mantém ainda diversos comités e grupos de trabalho, incluindo o Management Board, que supervisiona a estratégia e o funcionamento geral da organização, e o International Board, que garante a representação global da comunidade. A governação é documentada publicamente e todas as decisões e contribuições são registadas em canais acessíveis, reforçando a transparência e a legitimidade técnica e comunitária do openEHR. Um dos pilares da governação openEHR é o Clinical Knowledge Manager (CKM), um repositório público onde se criam, traduzem, discutem e publicam archetypes clínicos. O CKM é multilingue, colaborativo e auditável, envolvendo profissionais de saúde e especialistas em informática clínica de dezenas de países.