Telessaúde
Conceito
Telessaúde é um termo utilizado para descrever todas as possíveis variações de serviços de atenção à saúde que utilizam as Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs). Esses serviços são realizados por profissionais das diversas áreas da saúde e incluem a assistência, a educação continuada, a pesquisa e as avaliações.(1)(2) Dessa forma, a Telessaúde engloba a telemedicina, a teleenfermagem, a teleodontologia e as demais áreas da saúde e, conforme a sua aplicação, ela ainda pode ser subdividida em outras áreas específicas.
Na literatura, ainda encontramos a citação de outros termos para designar a sua utilização, como por exemplo: e-saúde, cibermedicina, telemedicina, dentre outros (3). E, à medida em que a tecnologia se evolui, são criadas novas terminologias. Contudo, o importante, segundo Bashshur (2002), é entender que a proposta da pesquisa neste campo é apoiar a cura, a prevenção de doenças, a redução de enfermidades e o aumento da qualidade de vida da população.(4)
Evolução Histórica
Não existe um consenso na literatura sobre o início da utilização da telessaúde. Entretanto, desde a criação do telefone os médicos já a utiliza para auxiliar em seus diagnósticos, incluindo uma tentativa de transmissão de imagens radiológicas, na década de 1940. (ZUNDEL, 1996; SEABRA, 2003) Uma das principais influências para o desenvolvimento da telessaúde foi por volta de 1960, através de um programa espacial da Nasa. Esse programa foi criado para monitorar a saúde de seus astronautas durante o vôo, mostrando que era possível controlar as funções fisiológicas dos astronautas no espaço (ZUNDEL, 1996; WHO, 2010; WEN, 2008 ).
De forma geral, a história da Telemedicina pode ser caracterizada por três grandes períodos, cada um resultante do avanço significativo das tecnologias da informação e comunicação.
O primeiro período foi denominado como a Era das Telecomunicações, que teve um início tímido com o uso da telefonia e alcançou o auge entre os anos 70 e 80, devido à evolução da radiodifusão e da teledifusão, além do barateamento dos equipamentos eletrônicos. Este período foi caracterizado pela dependência da radiodifusão e tecnologias de televisão, com sistemas de comunicação precários. Com exceção de alguns sistemas muito caros, dados de áudio e vídeo não eram completamente integrados. Como o cuidado médico era a única finalidade da Telessaúde, ela era tratada como Telemedicina. (WHO, 2010; TULU and LAXMINARAYAN, 2005)
O segundo período ou Era Digital, ocorreu no início dos anos 80, tendo grande crescimento nos anos 90. Ele se caracterizou pela integração das telecomunicações e dos computadores com transmissão de quantias relativamente altas de informações em largura de banda limitada. Seus principais avanços foram devidos à tecnologia ISDN (Integrated Service Digital Network) que permitia a transmissão de dados em linha telefônica a uma velocidade de até 128Kbps. Com o uso dessa tecnologia foi possível efetuar a transmissão de voz, vídeo e dados, simultaneamente, em uma rede universal a uma velocidade relativamente alta.
A Internet foi o marco do terceiro período. As vantagens de permitir o armazenamento e consultas de informações de áudio, vídeo e texto, através de um meio de comunicação global, menos caro e mais acessível a um maior número de pessoas, atraiu os usuários da Telemedicina. Porém, por causa da sua popularidade, o acesso à internet se tornou frequentemente demorado e sua largura de banda limitada impediu o armazenamento e a transmissão de grandes volumes de dados requeridos para algumas aplicações clínicas e corretos diagnósticos. Tais problemas foram um dos fatores que fomentou a Next Generation Internet - NGI (Internet 2) a investir em pesquisas na área, já que, devido ao aumento da velocidade e qualidade oferecida, ela provê novas possibilidades em Telemedicina.
Aplicações da Telessaúde
A Telessaúde pode ser caracterizada através de vários tipos de classificação (SEABRA, 2003; KRUPINSKI et al, 2002; TULU et al, 2005). De forma geral, podemos classifica-la em relação ao seu propósito à sua área da aplicação. Estes itens definem a quantidade e o tipo de informação (áudio, texto, imagem e vídeo) requerida para formar uma decisão médica.
O propósito da aplicação se refere à finalidade da comunicação e é classificada sob dois grupos: clínicas e as não-clínicas (TULU et al, 2005). Segundo Krupinski et al (2002), as aplicações clínicas são aquelas que proporcionam a troca de informações de saúde entre pacientes e médicos que estejam geograficamente separados, utilizando as tecnologias de informação e comunicação para propor diagnóstico ou tratamento médico. Estas aplicações podem ser voltadas para: triagem, diagnóstico, tratamento cirúrgico ou não-cirúrgico, consultoria, monitoramento, fornecimento de cuidados secundários ou supervisão de cuidados primários (TULU et al, 2005). As aplicações não-clínicas são as demais aplicações que se voltam para a educação de pacientes e médicos, pesquisa, saúde pública ou procedimentos administrativos.
A área de aplicação se refere ao domínio do campo médico, a Telemedicina. A importância desta dimensão é indicar as diferenças específicas das áreas que afetam a informação solicitada e adquirida através dos canais de comunicação. De acordo Krupinski et al (2002), as áreas de aplicação podem ser classificadas pelo nível de maturidade a qual pertencem. Maturidade é definida em base de vários fatores, inclusive a quantidade e qualidade de pesquisa que pertence à aplicação, o grau de aceitação da aplicação pela profissão, e o desenvolvimento de padrões e protocolos para a aplicação. Os atributos de desempenho são a viabilidade técnica, precisão diagnóstica, sensibilidade, especificidade, resultado clínico, e custo efetivo.
Telessaúde no Brasil
O Conselho Federal de Medicina (CFM) ainda é o órgão, no Brasil, com maiores investimentos e resoluções normativas que se referem à Telessaúde.
A resolução do CFM Nº 1.643/2002, que define e disciplina a prestação de serviços através da Telemedicina, estabelece, dentre outros preceitos, que:
- As informações do paciente só podem ser encaminhadas a outro profissional com autorização prévia do paciente por consentimento livre e esclarecido.
- O médico especialista só deve emitir uma recomendação se os dados estiverem completos para analisar o caso com segurança.
- Devem obedecer aos princípios da Confidencialidade, Privacidade e Sigilo. Assim como, obedecer às normas técnicas definidas pelo sobre a guarda, manuseio e transmissão de dados (Art. 2º).
- A responsabilidade profissional do atendimento cabe ao médico assistente do paciente (Art. 4º).
Programa Nacional Telessaúde Brasil Redes
O Programa Nacional Telessaúde Brasil Redes surgiu em 2007 por iniciativa do Ministério da Sáude. O seu objetivo é fortalecer e ampliar as ofertas de Educação Permanente em Saúde, a nível nacional, para os profissionais e trabalhadores do SUS através da tecnologia de comunicação e informação. Os municípios são agrupados por Núcleos que coordenam e atendem às demandas diariamente. O programa é dividido em quatro segmentos, são eles:
TeleconsultoriaPossibilita a telecomunicação bidirecional entre os profissionais e gestores de saúde, por meio de perguntas e respostas, a fim de esclarecer questões relativas ao atendimento assistencial ou à gestão em saúde. Tele-educaçãoCursos são oferecidos à distância, por meio de tecnologias de comunicação e informação, de acordo com as necessidades dos municípios. TelediagnósticoExames podem ser enviados ao Núcleo coordenador para a realização do laudo por um especialista. Segunda Opinião FormativaPerguntas são selecionadas a partir das teleconsultorias e armazenadas em uma biblioteca pública para pesquisa. |
Centro de Telessaúde HC-UFMG
O Centro de Telessaúde do Hospital das Clínicas da UFMG iniciou seu projeto em 1998 com a transmissão de imagens médicas e uma pequena equipe. Em 2003, veio o primeiro financiamento resultado da inclusão no Projeto HealthCareNetWork da União Europeia. Em 2004, foi implantado o projeto BHTelessaúde em parceria coma Secretaria Municipal de Saúde. Em 2005 foi fundado, oficialmente, o centro de Telessaúde no HC-UFMG, foi iniciado projeto Minas Telecardio e criada a rede de Teleassistência em Minas Gerais. Já em 2006, houve a adesão ao Projeto Piloto Nacional de Telessaúde e ao Projeto Rede Universitária de Telemedicina. Desde então tem se expandido por todo o território mineiro e recebido prêmios notáveis resultados de um grande trabalho.
Telessaúde no mundo
Na América Latina, vários países já possuem projetos de telessaúde implantados como: Brasil, Colômbia, Equador, México e Panamá, outros estão em processo de elaboração e implantação, como: Bolívia, Costa Rica, Cuba, El Salvador, Guatemala, Peru, Venezuela. Os outros países ainda encontram-se com nenhum ou pouco desenvolvimento nesta área. Incentivo não falta pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) com a incorporação da Telessaúde em sua Estrategia y Plan de Acción sobre eSalud (2012-2017).
Na África, o projeto SAHEL é uma iniciativa da Agência Espacial Europeia (ESA) e consiste em conectar as áreas remotas da África Subsaariana à hospitais e centros médicos de referência. Empresas de tecnologia, consultoria e ONGs se uniram para viabilizar este projeto com a teleconsultoria no apoio ao diagnóstico e tratamento do paciente, a formação contínua dos profissionais de saúde e a implantação de sistemas informatizados de gestão em saúde.
Desafios
- Despertar o interesse e fornecer recursos para a adesão de mais áreas de saúde.
- Assegurar o cumprimento dos aspectos éticos e legais.
- Informatizar unidades assistenciais em municípios carentes.
- Melhorar a transmissão dos dados, com maior qualidade e velocidade.
Referências Bibliográficas
[1] HADDAD, A. E.; SKELTON-MACEDO, M. C.; SILVA, D. G. Telemedicina e Telessaúde. 2014. Disponível em: <https://is.uab.unifesp.br/mod/resource/view.php?id=1623>. Acesso em: 02 jun. 2014.
[2] WHO - WORLD HEALTH ORGANIZATION. Telemedicine: opportunities and developments in member states. Global Observatory for eHealth Series. v. 2, 2010. Disponível em: <http://www.who.int/goe/publications/goe_telemedicine_2010.pdf>. Acessado em 21 nov. 2013.
[3] WEN, C. L.Telemedicina e a Telessaúde - Uma abordagem sob a visão de estratégia de saúde apoiada por tecnologia. Informática Pública. v.2, ano 10, 2008. p.7-15.
[4] BASHSHUR, R. L. Telemedicine and health care. Telemedicine Journal and e-Health. v. 8, n.1, 2002, p. 5-12.
[5] TULU, B., C. S.; LAXMINARAYAN, S. A taxonomy of telemedicine with respect to applications, infrastructure, delivery tools, type of setting and purpose. In: 38. Annual Hawaii International Conference on System Sciences: HICSS'05, Piscataway. IEEE Computer Society Press, 2005.
[6] KRUPINSKI, E.; NYPAVER, N.; POROPATICH, R.; ELLIS, D. R S. and SAPCI, H. Clinical applications in telemedicine/telehealth. Telemedicine Journal and e-Health, 2002.
[7] BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Manual de Telessaúde para Atenção Básica / Atenção Primária à Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2012.
[8] SOIREFMANN, M.; BLOM, M.B.; LEOPOLDO, L.; CESTARI, T.F. Telemedicina: uma revisão de literatura. Revista HCPA, n. 2, v.28, 2008.p.116-119.
[9] REZENDE EJC, MELO MCB, TAVARES EC, SANTOS AF, SOUZA C. Ética e telessaúde: reflexões para uma prática segura. Rev Panam Salud Publica. 2010;28(1):58–65.
[10] BRASIL. PORTARIA Nº 2.546, DE 27 DE OUTUBRO DE 2011. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2011/prt2546_27_10_2011.html>. Acessado em 28 de Outubro de 2015.
[11] BRASIL. Portal da Saúde: O que é o Programa Telessaúde Brasil Redes. Disponível em: <http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/o-ministerio/principal/secretarias/481-sgtes-p/gestao-da-educacao-raiz/telessaude/l1-telessaude/9917-telessaude-brasil>. Acessado em 28 de Outubro de 2015.
[12] SANTOS AF, D’AGOSTINO M, BOUSKELA MS, FERNANDÉZ A, MESSINA LA, ALVES HJ. Uma visão panorâmica das ações de telessaúde na América Latina. Rev Panam Salud Publica. 2014;35(5/6):465–70.
[13] ESA. SAHEL - SATELLITE AFRICAN E-HEALTH VALIDATION. Disponível em: <>. Acessado em 29 de Outubro de 2015.