Espirometria

Fonte: aprendis
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Conceito

A espirometria (do latim spirare = respirar + metrum = medida), também chamada de Prova de Função Pulmonar ou Prova Ventilatória, é a medida do ar que entra e sai dos pulmões. É um exame indolor e não invasivo, mas que exige compreensão e participação do paciente para realizar corretamente as manobras respiratórias. Pode ser realizada durante respiração lenta ou durante manobras expiratórias forçadas.

KOKO.jpg Figura 1: Aparelho espirômetro integrado ao computador.

Objetivos do teste

É um teste que auxilia na prevenção, permite o diagnóstico e a quantificação dos distúrbios ventilatórios, avaliação prognóstica e monitorização de tratamento de doenças respiratórias, além de fazer parte do manejo pré-operatório. A espirometria deve ser parte integrante da avaliação de pacientes com sintomas respiratórios (tosse, dispneia, chieira torácica) ou doença respiratória conhecida, como no tabagismo, asma, DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica), fibrose pulmonar, bronquiectasias, fibrose cística, doença neuromuscular, dentre outras.

Como realizar o exame

O exame é realizado respirando-se pela boca através de um tubo conectado a um aparelho chamado espirômetro que é capaz de registrar o volume e a velocidade do ar respirado. O espirômetro é integrado a um computador que realiza duas tarefas básicas: entrada de uma série de dados do aparelho para a memória do computador e o processamento numérico como cálculo dos índices espirométricos, determinação dos valores previstos a partir de equações de regressão e relatório final de acordo com formato determinado pelo programa. A qualidade mais importante de um sistema de função pulmonar computadorizado é sua capacidade de realizar medidas exatas, o que implica acurácia dos transdutores e aquisição e leituras corretas pelo software e hardware. O paciente fica sentado e respira através desse tubo. Como não pode desperdiçar o ar que o paciente está respirando, coloca-se uma presilha de borracha no nariz enquanto o paciente respira pela boca. As etapas são, sendo repetidas no mínimo por 3 vezes:

  1. Respirar normalmente por algum tempo;
  2. Encher o peito de ar completamente;
  3. Assoprar com o máximo de força e rapidez possível até o final;
  4. Quando o ar acabar, encher o peito novamente;
  5. Repete as manobras assoprando lentamente;
  6. Após término dessa primeira parte, usa medicamento spray broncodilatador e o teste será repetido novamente após 15-20 minutos.

Essas etapas são aplicadas por pessoal especialmente treinado. De acordo com a Sociedade Brasileira de Pneumologia, a responsabilidade para a realização e interpretação da espirometria é prerrogativa dos pneumologistas.

Tecnica 1.jpg Figura 2: Técnica para realização do exame.


A garantia da qualidade do exame engloba:

  • Treinamento do técnico e avaliação de competências
  • Manutenção preventiva e corretiva do equipamento
  • Manual de procedimentos no laboratório que inclui a indicação e contraindicação do teste, ficha clínica do paciente para avaliação médica, calibração do equipamento antes do teste, preparação do paciente, precauções de segurança, diretrizes para controle de qualidade.
  • Diretrizes para realização dos testes
  • Avaliação específica de qualidade, através de precisão e acurácia para evitar erros casuais e sistemáticos. Para isso, é muito importante a calibração diária antes da realização do exame, que envolve a medida do débito do espirômetro, a sensibilidade do aparelho de registro ou a geração de um fator de correção do software. Conecta-se uma seringa de 3 litros de volume a porta de entrada do espirômetro e coloca-se a temperatura ambiente do local do exame para realizar corretamente a calibração do aparelho.
  • Análise e manutenção dos registros de dados.

Interpretação

A espirometria, então, mede os volumes e os fluxos aéreos derivados de manobras inspiratórias e expiratórias máximas forçadas ou lentas. Vários parâmetros podem ser derivados, sendo os mais utilizados na prática clínica os seguintes:

  • Capacidade vital (CV): representa o maior volume de ar mobilizado, podendo ser medido tanto na inspiração quanto na expiração.
  • Capacidade vital forçada (CVF): representa o volume máximo de ar exalado com esforço máximo, a partir do ponto de máxima inspiração.
  • Volume expiratório forçado de primeiro segundo (VEF1): representa o volume de ar exalado no primeiro segundo durante a manobra de CVF.
  • Fluxo expiratório forçado médio (FEF25-75%): representa o fluxo expiratório forçado na faixa intermediária da CVF, isto é, entre 25 e 75% da curva de CVF.
  • Relação VEF1/CV ou relação VEF1/CVF: razão entre o volume expiratório forçado de primeiro segundo (VEF1) e capacidade vital. Muito importante para distinguir distúrbio ventilatório obstrutivo do restritivo.
  • Pico de fluxo expiratório (PFE): representa o fluxo máximo de ar durante manobra de CVF.

Curvas.png Figura 3: Volumes e capacidades pulmonares.


É útil a análise dos dados derivados da manobra expiratória forçada e lenta. Os resultados espirométricos são expressos em gráficos de volume-tempo e fluxo-volume. É essencial que um registro gráfico acompanhe os valores numéricos obtidos no teste. A morfologia da curva permite identificar o tipo de distúrbio ventilatório, amputações de fluxos expiratório ou inspiratório e resposta ao broncodilatador.

Fluxo.jpg Figura 4: Representação de curva fluxo-volume e curva volume-tempo.


Existem vários critérios para aceitação dessas curvas:

  • Início do teste abrupto
  • Volume retroextrapolado menor que 5% da CVF ou 150ml (considera a medida de maior valor)
  • Variabilidade entre os PFE das manobras menor que 10% ou 0,5L (considera a medida de maior valor)
  • Duração da expiração forçada de pelo menos 6 segundos, a menos que um platô evidente seja observado na curva volume-tempo.

Além disso, para aceitação final do exame, o seguinte critério de reprodutibilidade deve ser preenchido:

  • Dois maiores valores de VEF1 e CVF devem diferir menos de 0,15L.

Finalmente, para interpretar um teste, deve-se ter uma boa qualidade, graduado como A, que representa pelo menos duas manobras aceitáveis e duas reprodutíveis. Os valores obtidos são comparados a valores previstos adequados para a população avaliada. A interpretação da espirometria deve ser feita correlacionando dados clínicos, epidemiológicos e radiológicos. A mesma pode ser classificada em:

  • Índices espirométricos dentro dos limites de normalidade
  • Distúrbio ventilatório obstrutivo
  • Distúrbio ventilatório restritivo
  • Distúrbio ventilatório combinado (obstrutivo-restritivo)
  • Distúrbio ventilatório inespecífico

Além disso, acrescentar se houve variação significativa de fluxo e volume (VEF1 e/ou CVF/CV lenta) após broncodilatador no momento do teste.

Disturbios.jpg Figura 5: Morfologia das curvas fluxo-volume em cada tipo de distúrbio ventilatório.

Referência Bibliográfica

  1. Pereira CAC, Neder JA. Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT). Diretrizes para Testes de Função Pulmonar. J Pneumol. 2002; 28(Supl. 3): 1-82.
  2. Pellegrino R, Viegi G, Brusasco V, et al. Interpretative strategies for lung function tests. Eur Respir J. 2005; 26(5): 948-6.