Caderno de Registo de Dados

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Caderno de Registo de Dados
Sigla CRD ou CRF (do inglês Case Report Form)
Aplicações Utilizado em estudos clínicos para o registo dos dados de cada participante.
Conceitos relacionados eCRF (Caderno de Registo de Dados eletrónico), ensaios clínicos


Caderno de Registo de Dados

O caderno de registo de dados (CRF, do inglês Case Report Form) é um documento de apoio utilizado em estudos clínicos (geralmente ensaios clínicos) para a recolha de informação dos participantes. É uma ferramenta elementar que serve como suporte condutor ao longo dos estudos, onde a equipa de investigação local regista todos os dados necessários de acordo com o protocolo[1][2]. As guidelines da Conferência Internacional de Harmonização para as Boas Práticas Clínicas definem CRF como:

Um documento em papel ou eletrónico destinado ao registo dos dados requeridos pelo protocolo – informações a ser reportadas ao promotor#Conceitos de apoio.

“A printed, optical or electronic document designed to record all of the protocol - required information to be reported to the sponsor on each trial subject.” [3].


Utilizadores

  • Investigador principal (PI): médico, ou outro profissional habilitado para investigação, responsável pelo estudo no centro de ensaio. Observa, avalia e toma decisões perante o participante. Preenche e assina (confirmação da veracidade e rigor dos dados) o CRF.
  • Coordenador (Study Coordinator): membro da equipa de investigação no centro. Tem como funções a gestão e acompanhamento de todos os procedimentos de estudo, apoio no preenchimento dos CRFs e a ligação entre o centro e o promotor.
  • Equipa de investigação: conjunto de profissionais responsáveis pela implementação e condução do estudo no centro de ensaio. A equipa é geralmente multidisciplinar, incluindo médicos, coordenador, enfermeiros, farmacêuticos, entre outros[4].


Formatos de CRFs

Existem dois tipos de CRFs, em formato de papel e em formato eletrónico (eCRF). O formato de papel é a forma tradicional de recolher dados e uma boa opção para estudos pequenos e com poucos recursos (ou que variam o seu design). Em estudos de maiores dimensões e multicêntricos a utilização do eCRF é preferencial[2] e apresenta inúmeras vantagens:

  • Facilidade de organização e acessibilidade aos dados. Permite a organização automática dos dados e a ligação mais fácil e rápida entre formulários/páginas relacionados. Possibilita o acesso remoto de toda a equipa envolvida, desde os centros de estudo, ao monitor e à equipa de investigação responsável pelo estudo (promotor e CRO)[1][2].
  • Economia de tempo na gestão e manipulação dos dados. As atividades de verificação limpeza e validação ocorrem ao longo do preenchimento dos formulários, reduzindo o tempo e os esforços da equipa de monitorização e gestão dos dados. Estes sistemas possibilitam a confirmação dos dados através da abertura de queries, colocadas pelo sistema (automáticas) ou pelos data managers (ex. monitor, promotor). É estabelecida uma interação remota entre os diferentes interveniente – equipa de investigação do centro de estudo, monitores, CRO, data managers, promotor – para a verificação, correção e validação dos dados, reduzindo o tempo e os esforços dispensados para estas tarefas. Assim, o processo de esclarecimento de dados fica mais fluido e flexível, utilizando-se um esquema de pergunta-resposta assíncrono, reduzindo as visitas de monitorização presenciais aos centros (ver imagem 1 e 2)[5][2].
  • Economia de espaço físico nos centros de estudo[1]. Os estudos cínicos implicam o armazenamento seguro de toda a documentação ao longo do protocolo e durante um período de tempo legalmente estabelecido após o seu término. A utilização do formato digital veio economizar os recursos espaciais até então necessários.
  • Capacidade de integração com outros sistemas informáticos[1][2] necessários ao desenvolvimento dos estudos, tais como como sistemas de prescrição farmacêutica, sistemas de análise estatística, sistemas de apoio à decisão, sistemas de alerta e comunicação, entre outros.
  • Aumento da segurança e confidencialidade[1] dos dados, sendo que para aceder aos CRF é necessário a autenticação no sistema. Reduz-se assim a possibilidade de roubo ou perda de documentos físicos, embora todos os sistemas eletrónicos sejam vulneráveis a ataques e perdas.
  • Possibilidade de implementação de métodos de controlo de acesso. De acordo com o perfil do utilizador são estabelecidas autorizações que definem qual a informação a que estes têm acesso e quais as ações que podem realizar no sistema. Isto permite uma melhor interação entre os diferentes intervenientes dos estudos e um melhor controlo de funções.

Todos estes fatores encorajam os promotores/companhias farmacêuticas a desenvolver estudos multicêntricos de maior escala e até de maior complexidade, resultado de uma maior facilidade de gestão dos mesmos. Apesar das múltiplas vantagens dos CRFs eletrónicos existem ainda alguns entraves à substituição generalizada do formato de papel, tais como: a disponibilidade tecnológica nos centros de estudo, a falta de motivação dos investigadores, a complexidade da instalação e manutenção do software e os elevados custos associados[2].

Figura 1 – Diagrama de fluxo de dados com a utilização de CRF em suporte de papel
Figura 2 – Diagrama de fluxo de dados com a utilização de CRF em suporte eletrónico (eCRF)


Desenvolvimento e características gerais

O desenvolvimento do CRF é uma etapa muito importante na conceção de um estudo, uma vez que contribuirá para a avaliação dos seus endpoints (ex. ensaios clínicos: avaliação da segurança e eficácia do medicamento ou procedimento em teste). Este deve ser projetado cuidadosa e minuciosamente para uma recolha de informação ajustada e otimizada a cada protocolo, de acordo com os requisitos do estudo e com os requisitos regulamentares. Desta forma, deve permitir aos investigadores testar as hipóteses e responder às perguntas do estudo[6][2].

O design dos CRF deve ser padronizado e user-friendly para responder às necessidades de todos os intervenientes do sistema, desde as equipas dos centros de estudo, profissionais de gestão de dados, bioestatistas, monitores, programadores, promotor, entre outros[2].

O CRF deve ser bem estruturado, fácil de preencher e assegurar uma recolha de dados de elevada qualidade. Deve ser incluída a quantidade mínima de dados necessários para responder às hipóteses/endpoints do estudo, evitando informação desnecessária e desperdício de tempo e recursos[2]. A formulação das perguntas deve ser concisa e clara[7] e as respostas devem ser colhidas, sempre que possível, num formato fechado e pré-definido, para facilitar a entrada, interpretação e análise dos dados[7][2]. No caso de variáveis/parâmetros dependentes de avaliação ou medição (ex. escalas de doença, pressão arterial) devem ser facultadas as unidades de medida e instruções adicionais de suporte, garantindo uniformidade e clareza entre os diferentes clínicos/investigadores. Os formulários não devem ser ambíguos nem repetitivos[7][8].

Idealmente um CRF deve apenas ser construído após a finalização do protocolo, evitando o desenvolvimento de múltiplas versões[2].


Templates

A criação de livrarias de templates de CRFs é cada vez mais frequente, uma vez que alguns dados recolhidos são transversais a todos os estudos, tais como:

  • dados demográficos;
  • história médica;
  • critérios de inclusão e exclusão;
  • exame físico;
  • eventos adversos (AEs)
  • medicação concomitante.

Os templates são posteriormente ajustados e otimizados a cada protocolo[6][2]. A re-utilização dos princípios de design evita a necessidade de desenvolvimento de raiz e os seus custos associados, contribui para uma maior familiarização dos utilizadores, e reduz os tempos de treino e adaptação aos sistemas[2].


Conceitos de apoio

  • Estudo clínico: observacional ou experimental (ensaio clínico)[9].
  • Promotor: Entidade ou equipa responsável pela conceção, realização, gestão e financiamento do estudo.
  • Contract Research Organization (CRO): entidade que dá suporte nas atividades de investigação entre as quais, gestão e monitorização do estudo, data management, farmacovigilância, estatística.
  • Centro de estudo: local de realização do estudo dotado de meios materiais e humanos adequados à realização dos mesmos (hospitais, clínicas, universidades).
    • Investigador principal (PI): médico responsável pelo estudo no centro.
    • Equipa de investigação: conjunto de profissionais responsáveis pela implementação e condução de um estudo num centro de ensaio. A equipa é geralmente multidisciplinar, incluindo médicos, coordenador, enfermeiros, farmacêuticos, entre outros[4].


Referencias Bibliográficas

[1] [2] [3] [5] [6] [7] [8] [9] [4]

  1. 1,0 1,1 1,2 1,3 1,4 1,5 Roche. Disponível em: http://www.roche.pt/corporate/index.cfm/farmaceutica/ensaios-clinicos-profissionais-de-saude/fatores-chave-para-o-sucesso/acompanhamento-do-promotor-monitor/caderno-de-registo-de-dados-crf/. Consultado a 11 de Abril de 2016.
  2. 2,00 2,01 2,02 2,03 2,04 2,05 2,06 2,07 2,08 2,09 2,10 2,11 2,12 2,13 Bellary S, Krishnankutty B, Latha MS. Basics of case report designing in clinical research. Perspect Clin Res. 2014 Oct-Dec; 5(4): 159–166. doi: 10.4103/2229-3485.140555.
  3. 3,0 3,1 ICH Guidance E6: Good Clinical Practice: Consolidated guideline. US HHS, US FDA, CDER, CBER.1996. Sem autores listados. Disponível em: http://www.fda.gov/downloads/Drugs/Guidances/ucm073122.pdf .
  4. 4,0 4,1 4,2 Glossário. Roche. Disponível em: http://www.roche.pt/corporate/index.cfm/farmaceutica/ensaios-clinicos/glossario-ensaios-clinicos/. Consultado a 12 de Abril de 2016.
  5. 5,0 5,1 Samedan LDT. Disponível em: http://www.samedanltd.com/magazine/13/issue/156/article/3008. Consultado a 11 de Abril de 2016
  6. 6,0 6,1 6,2 Nahm M, Shepherd J, Buzenberg A, Rostami R, Corcoran A, McCall J, et al. Design and implementation of an institutional case report form library. Clin Trials. 2011;8:94–102. doi: 10.1177/1740774510391916.
  7. 7,0 7,1 7,2 7,3 Princípios gerais para elaboração do Caderno de Registo de Dados. Instituto Português de Oncologia de Lisboa Francisco Gentil, EPE. 1ªed. 2012.
  8. 8,0 8,1 Clinical Data Interchange Standards Consortium (CDISC). CDASH Core and Domain Teams. Austin, TX: Clinical Data Interchange Standards Consortium; 2008. Clinical Data Acquisition Standards Harmonization (CDASH) Disponível em: http://www.cdisc.org/stuff/contentmgr/files/0/9b32bc345908ac4c31ce72b529a3d995/misc/cdash_std_1_0_2008_10_01.pdf . Consultado a 11 de Abril de 2016.
  9. 9,0 9,1 Tipos de Estudos em Investigação Clínica. Forpoint. Disponível em: https://www.google.pt/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=2&cad=rja&uact=8&ved=0ahUKEwiQ_NCZ7JPMAhVEQBoKHaCiAXkQFggkMAE&url=http%3A%2F%2Fforpoint.grupokeypoint.pt%2Fdocs%2Fnewsletters%2Fnl_2.pdf&usg=AFQjCNGwsF50dMnA3PBqFEckMdpKd9gcgA&sig2=mhOclcsoTQ51nhKJbJOAKg. Consultado a 15 de Abril de 2016.