Uso da Informática na Reabilitação Cognitiva no Idoso

Fonte: aprendis
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Introdução


Com o aumento da expectativa de vida da população mundial tornam-se cada vez mais prevalentes doenças neurodegenerativas, notadamente a doença de Alzheimer e outros tipos de transtornos neurocognitivos ou demências. Estes transtornos cursam com declínio em diferentes dimensões da cognição gerando graves repercussões na funcionalidade, com perda progressiva da autonomia e independência do indivíduo acometido. Apesar da robusta investigação na prevenção e tratamento destas doenças os resultados ainda são modestos. O principal tratamento disponível na Doença de Alzheimer (inibidores de acetil-colinesterase) é capaz apenas de lentificar a progressão inexorável da doença. Daí a necessidade de desenvolvimento de estratégias complementares eficazes prevenção e tratamento desses transtornos neurocognitivos.

A reabilitação cognitiva é um processo através do qual indivíduos com déficits cognitivos aprendem estratégias para ´´reabilitar, reduzir ou melhorar suas disfunções cognitivas `` (Wilson, 2002, p. 98) com objetivo de melhorar a funcionalidade nas atividades do dia-a-dia. Uma avaliação neuropsicológica é o primeiro passo no processo de reabilitação pois permite ao profissional assistente identificar as dimensões da cognição prejudicadas e direcionar as estratégias de intervenção. Assim a reabilitação torna-se individualizada, coerente com necessidades do paciente e sua família. A ênfase é melhorar a funcionalidade no contexto de vida diário.

Com o desenvolvimento de novas tecnologias o uso de recursos de computação na prevenção e reabilitação dos transtornos neurocognitivos é um campo atraente e motivador de pesquisa nessa área. Estudos recentes suportam a hipótese que atividades de lazer relacionadas à informática podem ser um fator de proteção para o desenvolvimento de déficits cognitivos e demência [Xavier et al, 2014]. O uso de recursos de computação desenvolvidos para reabilitação cognitiva, quando comparado com técnicas tradicionais são uma alternativa potencialmente mais custo-efetiva, facilmente disseminável, podendo ser disponível a idosos sem acesso a intervenções tradicionais. Além disso reabilitação cognitiva através de computadores, tablets, smartphones ou vídeo games tende a ser mais flexível e personalizada que métodos tradicionais, fornece feedback de performance imediato e pode ser ajustado ao nível de habilidades do usuário, proporcionanado atividade motivadora ou mesmo divertida. Nos últimos anos o mercado tem sido inundado por produtos de treinamento cognitivo que prometem melhorar a performance da cognição e até mesmo proteger contra o desenvolvimento de déficits cognitivos e doença de Alzheimer. Entretanto poucos desses programas foram adequadamente testados usando metodologia científica para avaliar sua eficácia na reabilitação cognitiva em idosos

Mecanismos terapêuticos


As técnicas usualmente empregadas no treinamento cognitivo envolvem testes cognitivos em diferentes domínios cognitivos, simulação de tarefas da vida cotidiana, diminuição das demandas cognitivas em tarefas diárias e estratégias para otimizar habilidades cognitivas residuais em domínios deficitários. Além disso, apesar do comprometimento da memória na doença de Alzheimer certas modalidades de memória, como a memória implícita, podem estar relativamente preservadas nos estágios iniciais das demências, possibilitando o uso de estratégias compensatórias usando esferas cognitivas pouco comprometidas.


Alguns programas e aplicativos para treinamento cognitivo

1. PSSCogRehab

Sistema de reabilitação cognitiva desenvolvido para aplicação por terapeuta, individualmente ou em grupo

[1]

2. Guttmann neuropersonal trainer

Originalmente desenvolvido para reabilitação de vítimas de trauma crânio encefálico, tem sido usado em pacientes portadores de transtornos neurocognitivos

[2]

3. Cognifit

Permite o uso pelo paciente de ferramentas mais simples de estimulação cognitiva e permite aos profissionais fazer a reabilitação cognitiva

[3]

4. Luminosity

Programa de treinamento cognitivo gratuito, disponível para iOS e Android

[4]

Resultados


Apesar da escassez e limitação metodológica dos estudos, García-Casal et al(2016)em recente revisão concluíram que intervenções cognitivas computadorizadas tem moderados efeitos na cognição, depressão e ansiedade em indivíduos com demência. Tais efeitos foram mais significativos que intervenções de reabilitação não computadorizadas. Todavia não se demonstrou efeitos na performance das atividades de vida diária, principal desfecho de interesse. Assim pairam dúvidas sobre os efeitos dessas intervenções e sua duração a longo prazo, demandando investigações futuras e replicação dos achados.

Discussão


Existem evidências que mesmo programas simples de estimulação cognitiva como exercícios computadorizados e vídeo-games podem melhorar a cognição em idosos e diminuir os gastos no sistema de saúde. Ainda pouco se sabe sobre os resultados em pacientes com déficits cognitivos, sendo que atuais evidências não demonstram melhora na funcionalidade. Existem hoje diversos programas de estimulação, treinamento e reabilitação cognitiva, porém trata-se de um segmento cuja alegação de eficácia provêm mais frequentemente do departamento de marketing do produto que de evidências científicas (Kueider et al, 2014). Cabe às agências reguladoras e pesquisadores definirem como avaliar a eficácia dessa modalidade terapêutica.

Referências



García-Casal et al, 2016. Computer-based cognitive interventions for people living with dementia: a systematic literature review and meta-analysis. Aging Ment Health. 2016 Jan 25:1-14. [5]

Kueider AM, Parisi JM, Gross AL, Rebok GW (2012) Computerized Cognitive Training with Older Adults: A Systematic Review. PLoS ONE 7(7): e40588. doi:10.1371/journal.pone.0040588

Kueider AM; Bichay K and Rebok G. (2014) Cognitive training in older adults: What is it and does it work? center on aging at American institute for research. Issue brief, october, 2014

Xavier, A.J., d’Orsi, E., de Oliveira, C.M., Orrell, M., Demakakos, P., Biddulph, J.P., & Marmot, M.G. (2014). English longitudinal study of aging: Can Internet/E-mail use reduce cognitive decline? Journal of Gerontology. Series A: Biological Science and Medical Science, 69(9), 1117�1121. doi:10.1093/gerona/glu105