Caderno de Registo de Dados

Fonte: aprendis
Revisão em 14h40min de 18 de abril de 2016 por Up201408140 (discussão | contribs)
Saltar para a navegaçãoSaltar para a pesquisa
Caderno de Registo de Dados
Sigla CRD ou CRF (do inglês Case Report Form)
Aplicações Utilizado em estudos clínicos para o registo dos dados de cada participante.
Conceitos relacionados eCRF (Caderno de Registo de Dados eletrónico), ensaios clínicos


Caderno de Registo de Dados

O caderno de registo de dados (CRF, do inglês Case Report Form) é um documento de apoio utilizado em estudos clínicos (geralmente ensaios clínicos) para a recolha de informação dos participantes. É uma ferramenta elementar que serve como suporte condutor ao longo dos estudos, onde a equipa de investigação local regista todos os dados necessários de acordo com o protocolo[1][2]. As guidelines da Conferência Internacional de Harmonização para as Boas Práticas Clínicas definem CRF como:

Documento em papel ou eletrónico destinado ao registo dos dados requeridos pelo protocolo – informações a ser reportadas ao promotor.

“A printed, optical or electronic document designed to record all of the protocol - required information to be reported to the sponsor on each trial subject.” [3].


Utilizadores

Os CRFs são utilizados por diferentes tipos de utilizadores que desempenham diferentes tarefas consoante a sua função no estudo.

  • Investigador principal (PI): médico, ou outro profissional habilitado para investigação, responsável pelo estudo no centro de ensaio. Observa, avalia e toma decisões clínicas perante o participante. Preenche e assina (confirmação da veracidade e rigor dos dados) o CRF.
  • Coordenador (Study Coordinator): membro da equipa de investigação no centro. Tem como funções a gestão e acompanhamento de todos os procedimentos de estudo, apoio no preenchimento dos CRFs e a ligação entre o centro e o promotor.
  • Monitor: profissional dotado de competência científica ou clínica para supervisionar o progresso do estudo e assegurar que é conduzido de acordo com o protocolo e com os requisitos legais e regulamentares. Verifica o registo e a qualidade dos dados introduzidos no CRF[4].
  • Data manager: profissional que integra uma equipa multidisciplinar (ex.: médicos, investigadores, programadores) responsável pela gestão dos dados. Verifica e assegura a validade e consistência dos mesmos para que possam ser utilizados na análise estatística[5].


Formatos de CRFs

Existem dois tipos de CRFs, em formato de papel e em formato eletrónico (eCRF). O formato de papel é a forma tradicional de recolher dados e uma boa opção para estudos de pequenas dimensões e com poucos recursos. Em estudos de maiores dimensões e multicêntricos a utilização do eCRF é preferencial[2] e apresenta inúmeras vantagens:

  • Facilidade de organização e acessibilidade aos dados. Permite a organização automática dos dados e a ligação mais fácil e rápida entre páginas/formulários relacionados. Possibilita o acesso remoto de toda a equipa envolvida, desde os centro de estudo, ao monitor e à equipa de investigação responsável pelo estudo (promotor e CRO)[1][2].
  • Economia de tempo na gestão e manipulação dos dados. As atividades de verificação, limpeza e validação ocorrem ao longo do preenchimento dos formulários, reduzindo o tempo e os esforços da equipa de monitorização e gestão dos dados. Estes sistemas possibilitam a confirmação dos dados através da abertura de queries, colocadas pelo sistema (automáticas) ou pelos data managers (ex. monitor, promotor). É estabelecida uma interação remota entre os diferentes intervenientes – equipa do centro, monitor, CRO, data managers , promotor – para a verificação, correção e validação dos dados, reduzindo o tempo e os esforços dispensados para estas tarefas. Assim, o processo de recolha e validação de dados fica mais fluido e flexível, utilizando-se um esquema de pergunta-resposta assíncrono, reduzindo as visitas de monitorização presenciais aos centros (ver imagem 1 e 2)[6][2].
  • Economia de espaço físico nos centros de estudo[1]. Os estudos clínicos implicam o armazenamento seguro de toda a documentação ao longo do protocolo e durante um período de tempo legalmente estabelecido após o seu término. A utilização do formato digital veio economizar os recursos espaciais até então necessários.
  • Capacidade de integração com outros sistemas informáticos[1][2] necessários ao desenvolvimento dos estudos, tais como como sistemas de prescrição farmacêutica, sistemas de análise estatística, sistemas de apoio à decisão, sistemas de alerta e comunicação, entre outros.
  • Aumento da segurança e confidencialidade[1] dos dados, sendo que para aceder aos CRF é necessário a autenticação no sistema. Reduz-se assim a possibilidade de roubo ou perda de documentos físicos, bem como o acesso a pessoas não autorizadas, embora todos os sistemas eletrónicos sejam vulneráveis a ataques e perdas.
  • Possibilidade de implementação de métodos de controlo de acesso. De acordo com o perfil do utilizador são estabelecidas autorizações que definem qual a informação a que estes têm acesso e quais as ações que podem realizar no sistema. Isto permite uma melhor interação entre os diferentes intervenientes do estudo e um melhor controlo de funções.

Todos estes fatores encorajam os promotores/companhias farmacêuticas a desenvolver estudos multicêntricos de maior escala e até de maior complexidade, resultado de uma maior facilidade de gestão dos mesmos.

Apesar das múltiplas vantagens dos CRFs eletrónicos, existem ainda alguns entraves à substituição generalizada do formato de papel, tais como: a disponibilidade tecnológica nos centros de estudo, a falta de motivação dos investigadores, a complexidade da instalação e manutenção do software e os elevados custos associados[2].

Figura 1 – Diagrama de fluxo de dados com a utilização de CRF em suporte de papel
Figura 2 – Diagrama de fluxo de dados com a utilização de CRF em suporte eletrónico (eCRF)

Desenvolvimento e características gerais

O desenvolvimento do CRF é uma etapa muito importante na conceção de um estudo, uma vez que contribuirá para a avaliação dos seus endpoints (ex. ensaios clínicos: avaliação da segurança e eficácia do medicamento ou procedimento em teste). Este deve ser projetado cuidadosa e minuciosamente para uma recolha de informação ajustada e otimizada a cada protocolo, de acordo com os requisitos do estudo e com os requisitos regulamentares. Desta forma, deve permitir aos investigadores testar as hipóteses e responder às perguntas do estudo[7][2].

O design dos CRF deve ser padronizado e user-friendly para responder às necessidades de todos os intervenientes do sistema, desde as equipas dos centros de estudo, data managers, bioestatistas, monitores, programadores, promotor, entre outros[2].

O CRF deve ser bem estruturado e fácil de preencher, assegurando uma recolha de dados de elevada qualidade. Deve ser incluída a quantidade mínima de dados necessários para responder às hipóteses/endpoints do estudo, evitando informação desnecessária e desperdício de tempo e recursos[2]. A formulação das perguntas deve ser concisa e clara[8] e as respostas devem ser colhidas, sempre que possível, num formato fechado e pré-definido, para facilitar a entrada, interpretação e análise dos dados[8][2]. No caso de parâmetros dependentes de avaliação ou medição (ex. escalas de doença, pressão arterial) devem ser facultadas as unidades de medida e instruções adicionais de suporte, garantindo uniformidade e clareza entre os diferentes avaliadores (clínicos). Os formulários não devem ser ambíguos nem repetitivos[8][9].

Idealmente um CRF deve ser construído após a finalização do protocolo, evitando o desenvolvimento de múltiplas versões[2].

Templates

A criação de livrarias de templates de CRFs é cada vez mais frequente, uma vez que alguns dados recolhidos são transversais a todos os estudos, tais como:

  • dados demográficos;
  • história médica;
  • critérios de inclusão e exclusão;
  • exame físico;
  • eventos adversos (AEs)
  • medicação concomitante.

Os templates são posteriormente ajustados e otimizados a cada protocolo[7][2]. Para além de evitar a necessidade do desenvolvimento de raiz do CRF, a re-utilização dos princípios de design diminui os seus custos associados, contribui para uma maior familiarização dos utilizadores, e reduz os tempos de treino e adaptação aos sistemas[2].

Conceitos de apoio

  • Estudo clínico: observacional ou experimental (ensaio clínico)[10].
  • Promotor: entidade ou equipa responsável pela conceção, realização, gestão e financiamento do estudo.
  • Contract Research Organization (CRO): entidade que dá suporte nas atividades de investigação entre as quais, gestão e monitorização do estudo, data management, farmacovigilância, estatística.
  • Centro de estudo: local de realização do estudo dotado de meios físicos, materiais e humanos adequados à realização dos mesmos (hospitais, clínicas, universidades).
  • Equipa de investigação: conjunto de profissionais responsáveis pela implementação e condução de um estudo num centro de ensaio. A equipa é geralmente multidisciplinar, incluindo médicos, coordenador, enfermeiros, farmacêuticos, entre outros[4].

Referencias Bibliográficas

[1] [2] [3] [6] [7] [8] [9] [10] [4] [5]

  1. 1,0 1,1 1,2 1,3 1,4 1,5 Roche. Disponível em: http://www.roche.pt/corporate/index.cfm/farmaceutica/ensaios-clinicos-profissionais-de-saude/fatores-chave-para-o-sucesso/acompanhamento-do-promotor-monitor/caderno-de-registo-de-dados-crf/. Consultado a 11 de Abril de 2016.
  2. 2,00 2,01 2,02 2,03 2,04 2,05 2,06 2,07 2,08 2,09 2,10 2,11 2,12 2,13 Bellary S, Krishnankutty B, Latha MS. Basics of case report designing in clinical research. Perspect Clin Res. 2014 Oct-Dec; 5(4): 159–166. doi: 10.4103/2229-3485.140555.
  3. 3,0 3,1 ICH Guidance E6: Good Clinical Practice: Consolidated guideline. US HHS, US FDA, CDER, CBER.1996. Sem autores listados. Disponível em: http://www.fda.gov/downloads/Drugs/Guidances/ucm073122.pdf .
  4. 4,0 4,1 4,2 Glossário. Roche. Disponível em: http://www.roche.pt/corporate/index.cfm/farmaceutica/ensaios-clinicos/glossario-ensaios-clinicos/. Consultado a 12 de Abril de 2016.
  5. 5,0 5,1 Krishnankutty B, Bellary S, Kumar NBR, Moodahadu LS. Data management in clinical research: an overview. Indian J Pharmacol. 2012;44(2):168–172. doi: 10.4103/0253-7613.93842.
  6. 6,0 6,1 Samedan LDT. Disponível em: http://www.samedanltd.com/magazine/13/issue/156/article/3008. Consultado a 11 de Abril de 2016
  7. 7,0 7,1 7,2 Nahm M, Shepherd J, Buzenberg A, Rostami R, Corcoran A, McCall J, et al. Design and implementation of an institutional case report form library. Clin Trials. 2011;8:94–102. doi: 10.1177/1740774510391916.
  8. 8,0 8,1 8,2 8,3 Princípios gerais para elaboração do Caderno de Registo de Dados. Instituto Português de Oncologia de Lisboa Francisco Gentil, EPE. 1ªed. 2012.
  9. 9,0 9,1 Clinical Data Interchange Standards Consortium (CDISC). CDASH Core and Domain Teams. Austin, TX: Clinical Data Interchange Standards Consortium; 2008. Clinical Data Acquisition Standards Harmonization (CDASH) Disponível em: http://www.cdisc.org/stuff/contentmgr/files/0/9b32bc345908ac4c31ce72b529a3d995/misc/cdash_std_1_0_2008_10_01.pdf . Consultado a 11 de Abril de 2016.
  10. 10,0 10,1 Tipos de Estudos em Investigação Clínica. Forpoint. Disponível em: https://www.google.pt/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=2&cad=rja&uact=8&ved=0ahUKEwiQ_NCZ7JPMAhVEQBoKHaCiAXkQFggkMAE&url=http%3A%2F%2Fforpoint.grupokeypoint.pt%2Fdocs%2Fnewsletters%2Fnl_2.pdf&usg=AFQjCNGwsF50dMnA3PBqFEckMdpKd9gcgA&sig2=mhOclcsoTQ51nhKJbJOAKg. Consultado a 15 de Abril de 2016.