DashBoards (Contexto em Saúde)

Fonte: aprendis
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Os dashboards em saúde são ferramentas visuais interativas concebidas para apresentar dados clínicos, administrativos ou operacionais de forma integrada e acessível. Utilizados por profissionais de saúde, gestores hospitalares e autoridades de saúde pública, estes sistemas permitem identificar tendências, antecipar riscos e tomar decisões fundamentadas em tempo útil, ao condensarem grandes volumes de informação em representações gráficas intuitivas. Estes painéis são especialmente úteis em contextos onde a rapidez na análise e interpretação dos dados pode impactar diretamente a qualidade dos cuidados prestados, como na monitorização de surtos epidemiológicos, no acompanhamento de doentes crónicos ou na gestão de recursos hospitalares. Com a crescente digitalização dos sistemas de informação em saúde, os dashboards assumem um papel cada vez mais central na promoção de eficiência, transparência e segurança, tanto a nível clínico como institucional. [1]

O que são Dashboards?

Um dashboard, ou painel de controlo, é uma interface visual interativa que permite visualizar, de forma clara e sintética, um conjunto de dados relevantes para a monitorização de processos, atividades ou sistemas. Através da utilização de gráficos, indicadores e outros elementos visuais, os dashboards facilitam a análise rápida de informação, apoiando a tomada de decisões fundamentadas e em tempo útil. [2]

O termo dashboard tem origem na metáfora dos painéis de instrumentos dos automóveis, concebidos para fornecer ao condutor informações essenciais de forma rápida e acessível. Este conceito foi adaptado nas áreas da gestão e, mais tarde, da informática, para descrever ferramentas que agregam dados provenientes de diversas fontes, transformando-os em informação útil e aplicável.[3]

Com o avanço das tecnologias de informação, especialmente a partir da década de 1990, os dashboards passaram a integrar sistemas de business intelligence (BI), permitindo às organizações monitorizar em tempo real o seu desempenho e identificar padrões, riscos ou oportunidades. No setor da saúde, esta evolução ganhou particular relevância devido à elevada complexidade dos dados clínicos e operacionais, e à necessidade de decisões precisas e informadas. [2] [3]


Aplicados ao contexto da saúde, os dashboards oferecem uma visão integrada e dinâmica de informação proveniente de Registos de Saúde Eletrónicos (RSE), sistemas de gestão hospitalar, bases de dados epidemiológicas ou plataformas institucionais. Esta capacidade de síntese e visualização torna os dashboards ferramentas fundamentais para profissionais de saúde, gestores e decisores políticos. [4]

Os dashboards são compostos por vários elementos essenciais que facilitam a apresentação clara e a interpretação rápida dos dados. Estes componentes trabalham juntos para oferecer uma experiência de visualização eficiente e prática: [5]

  • Gráficos (de linhas, barras, setores, dispersão, etc.)
  • Tabelas dinâmicas
  • KPIs (Key Performance Indicators) – Indicadores-chave de desempenho
  • Filtros interativos (por data, unidade, patologia, etc.)

Os dashboards podem ainda ser classificados de acordo com o seu objetivo e nível de análise em: [6]

  • Dashboards operacionais – Focados na monitorização em tempo real de atividades diárias.
  • Dashboards analíticos – Destinados à análise de tendências ou correlações ao longo do tempo.
  • Dashboards estratégicos – Utilizados por gestores e decisores para avaliar o desempenho global da instituição, definir prioridades e apoiar o planeamento a longo prazo.

A eficácia de um dashboard depende tanto da qualidade dos dados apresentados como da clareza e usabilidade da interface. O seu design deve permitir uma leitura intuitiva, rápida e orientada à ação. [4]

Importância no Contexto Clínico

Num setor como a saúde, onde as decisões podem ter impacto direto na vida dos doentes, a acessibilidade rápida e clara à informação é fundamental. Neste âmbito, os dashboards surgem como instrumentos que facilitam a leitura e interpretação de dados clínicos e operacionais, apoiando profissionais de saúde, gestores e decisores de todos os níveis do sistema. [7]

No contexto clínico, dashboards bem concebidos possibilitam: [7]

  • Acompanhamento em tempo real do estado clínico de um doente (ex.: sinais vitais, resultados laboratoriais, alertas de risco);[7]
  • Monitorização de parâmetros de segurança e qualidade, como taxas de infeção hospitalar, tempos de internamento ou eventos adversos;
  • Apoio à gestão de doenças crónicas, integrando dados de consultas, exames e dispositivos móveis ou wearables.

No plano institucional, são utilizados para:[7]

  • Gerir fluxos assistenciais, otimizar recursos humanos e materiais;
  • Analisar indicadores de desempenho assistencial e financeiro;
  • Planear estratégias com base em dados reais, promovendo a transparência e a responsabilidade.


Nas Unidades Locais de Saúde (ULS) em Portugal, os dashboards são cada vez mais comuns e integrados nos sistemas como o BI-CSP ( Business Intelligence Cuidados de Saúde Primários) ou nos painéis de controlo internos de hospitais, centros de saúde e agrupamentos. Estas plataformas permitem a monitorização diária de indicadores assistenciais e operacionais, promovendo uma cultura de gestão baseada em dados. [8]

Durante a pandemia de COVID-19, o papel dos dashboards foi amplamente reforçado, com o desenvolvimento de plataformas públicas e institucionais que permitiram acompanhar indicadores-chave, como o número de casos confirmados, internamentos, óbitos e a evolução da vacinação, garantindo também uma comunicação mais clara com a população e com os responsáveis políticos. [9]


Este tipo de ferramentas é hoje reconhecido como essencial para uma governação clínica moderna, apoiando a eficiência, a segurança do doente e a melhoria contínua da qualidade dos cuidados de saúde.

Dashboard Software

Os softwares de dashboard são ferramentas digitais interativas que permitem criar, visualizar e interagir com painéis de controlo dinâmicos, agregando e representando dados de múltiplas fontes de forma gráfica e acessível. Em contexto clínico, estes sistemas são integrados com RSE, bases de dados hospitalares ou plataformas de business intelligence, permitindo o acesso em tempo real a métricas clínicas, operacionais e financeiras. A capacidade de interação e personalização torna-os essenciais na prática clínica, permitindo aos usuários explorar os dados de acordo com suas necessidades específicas. [10]

Softwares mais comuns

As soluções de software para dashboards em saúde podem ser classificadas em duas grandes categorias:

  • Soluções proprietárias: Desenvolvidas por empresas com licença comercial. Muitas oferecem funcionalidades avançadas, suporte técnico e integração com sistemas hospitalares. Exemplos:
    • Power BI (Microsoft) [11] – Muito utilizado em Portugal, incluindo em Unidades Locais de Saúde (ULS), permite integração com Excel, SQL Server, entre outros.
    • Tableau (Salesforce)[12] – Popular em instituições internacionais, usado para criar dashboards interativos em tempo real.
    • QlikView / Qlik Sense [13]– Conhecido pela sua rapidez na análise de grandes volumes de dados.


  • Soluções open-source: Ferramentas gratuitas e de código aberto, que permitem personalização total e integração com ambientes técnicos específicos. Exemplos:
    • Metabase [14] – Simples de usar e muito adequado para equipas técnicas internas.
    • Grafana[15] – Bastante usado em ambientes técnicos e para monitorização contínua.
    • Superset (Apache) [16]– Adotado em projetos com grandes volumes de dados.

Critérios de escolha e integração

A escolha do software deve considerar:[10] [17] [18]

  • Compatibilidade com o sistema de RSE em uso (ex.: SClínico, SONHO, Alert®);
  • Capacidade de integração com serviços web, HL7/FHIR, APIs;
  • Segurança e compliance (RGPD, acessos por perfil);
  • Usabilidade e acessibilidade por diferentes tipos de profissionais;
  • Capacidade de escalabilidade (instituições de grande dimensão);
  • Facilidade de personalização e configuração de dashboards, relatórios e visualizações específicas para diferentes especialidades clínicas e administrativas;

Avaliação e Boas Práticas no Desenvolvimento de Dashboards

Avaliação da Qualidade de Dashboards

A avaliação da qualidade de um dashboard é essencial para garantir que ele atenda às necessidades dos usuários e seja eficaz na apresentação de dados. Para isso, diversos modelos têm sido propostos na literatura, como o GUIDE-M (Guidelines for Developing Dashboards in Medicine), que recomenda:[10] [19]

  • Utilidade: O dashboard responde às necessidades dos seus utilizadores?
  • Usabilidade: É fácil de navegar e interpretar?
  • Atualização: Os dados são atualizados com frequência e fiabilidade?
  • Visualização eficaz: As representações gráficas facilitam a compreensão?
  • Integração: O dashboard comunica bem com outros sistemas (ex. RSE)?
  • Segurança e privacidade: Estão assegurados os princípios do RGPD?
  • Além disso, métodos como testes de utilizadores, entrevistas, checklists heurísticos e indicadores de desempenho (ex. tempo até à decisão) ajudam a validar a eficácia dos dashboards em ambiente real. [19] [18]

Boas Práticas no Desenvolvimento de um Dashboard

Ao desenvolver um dashboard, é crucial adotar boas práticas que assegurem a criação de interfaces intuitivas e eficazes. Essas práticas envolvem desde o design centrado no usuário até a garantia de uma visualização clara e a integração com sistemas existentes. Seguir tais diretrizes ajuda a evitar sobrecarga de informações, melhora a interatividade e assegura que o sistema atenda às necessidades clínicas e operacionais de maneira eficiente e segura: [17] [10] [20]

1. Centrado no Utilizador Final
  • Envolver médicos, enfermeiros, gestores ou farmacêuticos desde a fase de conceção.
  • Adaptar a complexidade e o tipo de dados ao perfil do utilizador (ex.: clínico vs. gestor).
2. Simplicidade e Clareza
  • Evitar sobrecarga de informação ("data overload").
  • Utilizar cores com propósito (ex.: verde para normal, vermelho para alerta).
  • Gráficos simples e com rótulos claros.
3. Hierarquia Visual
  • Destacar os KPIs principais com maior relevo.
  • Agrupar informações relacionadas de forma lógica (ex.: secções clínicas, operacionais).
4. Atualização Regular
  • Garantir sincronização automática com os sistemas de origem (ex.: base de dados hospitalar, RSE).
  • Indicar data/hora da última atualização.
5. Interatividade
  • Permitir filtragem por datas, unidades, profissionais ou grupos de doentes.
  • Ferramentas de drill-down para explorar detalhes quando necessário.
6. Testes e Iterações
  • Fazer protótipos simples (ex.: em Excel ou papel) antes da implementação final.
  • Recolher feedback iterativo de utilizadores reais.
  • Medir impacto com indicadores objetivos (ex.: tempo de resposta, melhoria de indicadores clínicos).

Desafios e Limitações dos Dashboards na Saúde

Apesar das suas vantagens, os dashboards no setor da saúde enfrentam vários desafios que podem comprometer a sua eficácia. Estes obstáculos ocorrem tanto ao nível técnico como organizacional, e exigem atenção durante o planeamento e implementação das soluções. [21] [22] [4]

Principais desafios:

  • Integração de sistemas
    • Dificuldade em consolidar dados de diferentes plataformas (ex.: RSE, bases administrativas, sistemas laboratoriais).
    • Falta de interoperabilidade entre sistemas e ausência de normalização (ex.: padrões HL7/FHIR nem sempre implementados).
  • Qualidade dos dados
    • Presença de dados incompletos, desatualizados ou inconsistentes.
    • Problemas de origem nos sistemas de recolha (ex.: erros manuais, falhas técnicas).
  • Sobrecarga de informação
    • Dashboards demasiado complexos, com excesso de métricas e visualizações.
    • Dificuldade na leitura rápida e interpretação dos dados.
  • Privacidade e segurança
    • Riscos associados ao acesso indevido a dados clínicos sensíveis.
    • Necessidade de conformidade com o RGPD e políticas internas de segurança da informação.
  • Baixa literacia digital e resistência à mudança
    • Profissionais de saúde com pouca formação em ferramentas digitais.
    • Adoção limitada quando não há envolvimento desde a fase de conceção.
  • Custos e recursos
    • Necessidade de investimento em software, hardware e formação.
    • Escassez de equipas técnicas especializadas em ambientes clínicos.

Referências Bibliográficas

  1. Dawn Dowding, Rebecca Randell, Peter Gardner, Geraldine Fitzpatrick, Patricia Dykes, Jesus Favela, Susan Hamer, Zac Whitewood-Moores, Nicholas Hardiker, Elizabeth Borycki, Leanne Currie, Dashboards for improving patient care: Review of the literature, International Journal of Medical Informatics, Volume 84, Issue 2,2015,Pages 87-100,ISSN 1386-5056.
  2. 2,0 2,1 Pettit, C., Leao, S.Z. (2022). Dashboard. In: Schintler, L.A., McNeely, C.L. (eds) Encyclopedia of Big Data. Springer, Cham. https://doi.org/10.1007/978-3-319-32010-6_295
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  4. 4,0 4,1 4,2 Ghazisaeidi M, Safdari R, Torabi M, Mirzaee M, Farzi J, Goodini A. Development of Performance Dashboards in Healthcare Sector: Key Practical Issues. Acta Inform Med. 2015 Oct;23(5):317-21. doi: 10.5455/aim.2015.23.317-321. Epub 2015 Oct 5. PMID: 26635442; PMCID: PMC4639357.
  5. Abbas Moallem,Human-Computer Interaction in Various Application Domains, Dashboard Design,1st Edition,2024.
  6. A. A. Rahman, Y. B. Adamu and P. Harun, "Review on dashboard application from managerial perspective," 2017 International Conference on Research and Innovation in Information Systems (ICRIIS), Langkawi, Malaysia, 2017, pp. 1-5, doi: 10.1109/ICRIIS.2017.8002461.keywords: {Monitoring;Visualization;Organizations;Planning;Data visualization;Bars;dashboard;data visualization;strategic;tactical;operational;performance management},
  7. 7,0 7,1 7,2 7,3 Hospital performance dashboards: a literature review, Sandra C. Buttigieg, Adriana Pace, Cheryl Rathert, Journal of Health Organization and Management, 15 May 2017
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