DashBoards (Contexto em Saúde): diferenças entre revisões
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=== Avaliação da Qualidade de Dashboards === | === Avaliação da Qualidade de Dashboards === | ||
A avaliação de um dashboard deve considerar critérios técnicos, funcionais e ergonómicos. Diversos modelos têm sido propostos na literatura, como o GUIDE-M (Guidelines for Developing Dashboards in Medicine), que recomenda: | A avaliação de um dashboard deve considerar critérios técnicos, funcionais e ergonómicos. Diversos modelos têm sido propostos na literatura, como o GUIDE-M (Guidelines for Developing Dashboards in Medicine), que recomenda: | ||
* Utilidade: O dashboard responde às necessidades dos seus utilizadores? | * '''Utilidade''': O dashboard responde às necessidades dos seus utilizadores? | ||
* Usabilidade: É fácil de navegar e interpretar? | * '''Usabilidade''': É fácil de navegar e interpretar? | ||
* Atualização: Os dados são atualizados com frequência e fiabilidade? | * '''Atualização''': Os dados são atualizados com frequência e fiabilidade? | ||
* Visualização eficaz: As representações gráficas facilitam a compreensão? | * '''Visualização eficaz''': As representações gráficas facilitam a compreensão? | ||
* Integração: O dashboard comunica bem com outros sistemas (ex. RSE)? | * '''Integração''': O dashboard comunica bem com outros sistemas (ex. RSE)? | ||
* Segurança e privacidade: Estão assegurados os princípios do RGPD? | * '''Segurança e privacidade''': Estão assegurados os princípios do RGPD? | ||
* Além disso, métodos como testes de utilizadores, entrevistas, checklists heurísticos e indicadores de desempenho (ex. tempo até à decisão) ajudam a validar a eficácia dos dashboards em ambiente real. | * Além disso, métodos como '''testes de utilizadores''', '''entrevistas''', '''checklists heurísticos''' e '''indicadores de desempenho''' (ex. tempo até à decisão) ajudam a validar a eficácia dos dashboards em ambiente real. | ||
Boas Práticas no Desenvolvimento | === Boas Práticas no Desenvolvimento === | ||
# '''Centrado no Utilizador Fina''' | |||
**Envolver médicos, enfermeiros, gestores ou farmacêuticos desde a fase de conceção. | |||
**Adaptar a complexidade e o tipo de dados ao perfil do utilizador (ex.: clínico vs. gestor). | |||
2. Simplicidade e Clareza | 2. Simplicidade e Clareza | ||
• Evitar sobrecarga de informação ("data overload"). | • Evitar sobrecarga de informação ("data overload"). | ||
Revisão das 15h12min de 30 de junho de 2025
Os dashboards em saúde são ferramentas visuais interativas concebidas para apresentar dados clínicos, administrativos ou operacionais de forma integrada e acessível. Utilizados por profissionais de saúde, gestores hospitalares e autoridades de saúde pública, estes sistemas permitem identificar tendências, antecipar riscos e tomar decisões fundamentadas em tempo útil, ao condensarem grandes volumes de informação em representações gráficas intuitivas. Estes painéis são especialmente úteis em contextos onde a rapidez na análise e interpretação dos dados pode impactar diretamente a qualidade dos cuidados prestados, como na monitorização de surtos epidemiológicos, no acompanhamento de doentes crónicos ou na gestão de recursos hospitalares. Com a crescente digitalização dos sistemas de informação em saúde, os dashboards assumem um papel cada vez mais central na promoção de eficiência, transparência e segurança, tanto a nível clínico como institucional.
O que são Dashboards?
Um dashboard, ou painel de controlo, é uma interface gráfica que permite visualizar e acompanhar, de forma rápida e interativa, um conjunto de dados relevantes para a monitorização de processos, atividades ou sistemas.
No contexto da informática médica, os dashboards desempenham um papel central ao reunir dados clínicos, operacionais e administrativos de múltiplas fontes, como Registos de Saúde Eletrónicos (RSE), sistemas de gestão hospitalar, bases de dados epidemiológicas ou plataformas de recursos humanos. Dado um contexto, estes dados são transformados em informação relevante, apresentada de forma clara, com o objetivo de facilitar a tomada de decisões em tempo real por profissionais de saúde, gestores e decisores políticos.
Os principais componentes de um dashboard incluem:
- Gráficos (de linhas, barras, setores, dispersão, etc.)
- Tabelas dinâmicas
- KPIs (Key Performance Indicators) – Indicadores-chave de desempenho
- Filtros interativos (por data, unidade, patologia, etc.)
Os dashboards podem ser classificados de acordo com o seu objetivo e nível de análise em:
- Dashboards operacionais – Focados na monitorização em tempo real de atividades diárias, como o número de camas disponíveis, tempos de espera ou fluxo de doentes num serviço de urgência.
- Dashboards analíticos – Destinados à análise de tendências ou correlações ao longo do tempo, como a evolução de indicadores de desempenho clínico, taxas de infeção hospitalar ou adesão a programas de rastreio.
- Dashboards estratégicos – Utilizados por gestores e decisores para avaliar o desempenho global da instituição, definir prioridades e apoiar o planeamento a longo prazo.
A eficácia de um dashboard depende tanto da qualidade dos dados apresentados como da clareza e usabilidade da interface. O seu design deve permitir uma leitura intuitiva, rápida e orientada à ação.
Importância no Contexto Clínico
Num setor como a saúde, onde as decisões podem ter impacto direto na vida dos doentes, a acessibilidade rápida e clara à informação é fundamental. Os dashboards surgem, neste contexto, como instrumentos que facilitam a leitura e interpretação de dados clínicos e operacionais, apoiando profissionais de saúde, gestores e decisores de todos os níveis do sistema.
No contexto clínico, dashboards bem concebidos possibilitam:
- Acompanhamento em tempo real do estado clínico de um doente (ex.: sinais vitais, resultados laboratoriais, alertas de risco);
- Monitorização de parâmetros de segurança e qualidade, como taxas de infeção hospitalar, tempos de internamento ou eventos adversos;
- Apoio à gestão de doenças crónicas, integrando dados de consultas, exames e dispositivos móveis ou wearables.
No plano institucional, são utilizados para:
- Gerir fluxos assistenciais, otimizar recursos humanos e materiais;
- Analisar indicadores de desempenho assistencial e financeiro;
- Planear estratégias com base em dados reais, promovendo a transparência e a responsabilidade.
Nas Unidades Locais de Saúde (ULS) em Portugal, os dashboards são cada vez mais comuns e integrados em sistemas como o BI-CSP (Business Intelligence – Cuidados de Saúde Primários) ou nos painéis de controlo internos de hospitais, centros de saúde e agrupamentos. Estas plataformas permitem a monitorização diária de indicadores assistenciais e operacionais, promovendo uma cultura de gestão baseada em dados.
Durante a pandemia de COVID-19, o papel dos dashboards foi amplamente reforçado. Foram desenvolvidas plataformas públicas e institucionais que permitiram acompanhar:
- Número de casos confirmados, internamentos e óbitos;
- Ocupação de camas em enfermaria e cuidados intensivos;
- Consumo de equipamentos de proteção individual e testes;
- Evolução da vacinação por faixa etária e região.
Este tipo de ferramentas é hoje reconhecido como essencial para uma governação clínica moderna, apoiando a eficiência, a segurança do doente e a melhoria contínua da qualidade dos cuidados de saúde.
Principais tipos de Dasboards Clinicos
Os dashboards clínicos constituem ferramentas essenciais para transformar grandes volumes de dados em conhecimento acionável. Cada tipo de dashboard tem objetivos específicos e serve públicos distintos dentro das instituições de saúde. Abaixo descrevem-se os principais tipos utilizados em contexto hospitalar e de saúde pública.
Painel do Doente
Os patient dashboards oferecem uma visão consolidada e atualizada do estado clínico dos doentes, servindo como ponto central de consulta para médicos, enfermeiros e equipas multidisciplinares. Estes painéis integram dados provenientes de múltiplas fontes — como sinais vitais, exames laboratoriais, histórico clínico, medicação prescrita e evolução clínica — permitindo uma monitorização contínua e personalizada.
Este tipo de dashboard é particularmente útil para identificar precocemente sinais de deterioração, acompanhar a resposta a tratamentos e avaliar indicadores de desempenho assistencial. Por exemplo, métricas como tempo médio de estadia, taxa de readmissão, nível de dor reportado, ou satisfação do doente ajudam a avaliar a eficácia da abordagem terapêutica e a segurança dos cuidados prestados.
Além disso, os patient dashboards promovem a comunicação entre equipas e facilitam a passagem de turno, melhorando a continuidade dos cuidados.
(IMAGEM)
Painel de Controlo de Infeção
Os dashboards de controlo de infeção são fundamentais para a vigilância epidemiológica e a gestão do risco de infeções associadas aos cuidados de saúde (IACS). São utilizados por equipas de controlo de infeção hospitalar, microbiologistas e decisores clínicos. Estes painéis permitem acompanhar taxas de infeção hospitalar (como pneumonia associada à ventilação, infeções do trato urinário ou bacteriemias), bem como dados sobre isolamento de microrganismos, utilização de antibióticos, e áreas críticas com maior incidência de infeções. A capacidade de identificar padrões, surtos localizados ou aumento de resistências antimicrobianas é essencial para implementar intervenções rápidas e eficazes, reforçar medidas de prevenção e garantir ambientes hospitalares seguros. Em contexto pós-pandemia, este tipo de dashboard tornou-se ainda mais relevante, com integração de dados sobre SARS-CoV-2, testes realizados e indicadores de vigilância ativa. (IMAGEM)
Painel Operacional Hospitalar
Os dashboards operacionais são usados para acompanhar o funcionamento global de uma unidade hospitalar, ajudando gestores e equipas técnicas a otimizar recursos e a planear atividades de forma eficiente. Um dos subsetores mais dinâmicos é o painel das urgências, que monitoriza em tempo real o número de doentes em observação, tempo médio de espera, classificação por triagem de Manchester, e ocupação de camas de internamento. Durante períodos de elevada procura, como no inverno ou em surtos epidémicos, estes dashboards tornam-se ferramentas críticas para garantir fluidez assistencial, evitando ruturas de capacidade e redirecionando recursos de forma eficaz. Para além das urgências, os painéis operacionais acompanham:
- Taxa de ocupação global
- Tempos médios de alta
- Cancelamentos cirúrgicos
- Eficiência dos blocos operatórios
Estas métricas apoiam a governação clínica e a gestão diária das unidades, promovendo decisões mais informadas e rápidas.
Painel Financeiro
Os dashboards financeiros integram indicadores económicos e contabilísticos, permitindo às direções financeiras e administrativas acompanhar a sustentabilidade das instituições de saúde. Ao relacionar os custos com a atividade assistencial, estes painéis contribuem para identificar ineficiências, otimizar recursos e apoiar a alocação orçamental. Entre os principais indicadores acompanhados destacam-se:
- Custo médio por episódio de internamento
- Receita por tipo de consulta ou ato clínico
- Taxa de faturação realizada vs. prevista
- Comparação de custos entre serviços ou departamentos
Os dashboards financeiros são também ferramentas essenciais em processos de contratualização interna ou externa, e na avaliação do cumprimento de objetivos institucionais.
Dashboard Software
Os softwares de dashboard são ferramentas digitais que permitem criar, visualizar e interagir com painéis de controlo dinâmicos, agregando e representando dados de múltiplas fontes de forma gráfica e acessível. Em contexto clínico, estes sistemas são integrados com Registos de Saúde Eletrónicos (RSE), bases de dados hospitalares ou plataformas de business intelligence, permitindo o acesso em tempo real a métricas clínicas, operacionais e financeiras.
Tipos de Soluções
As soluções de software para dashboards em saúde podem ser classificadas em duas grandes categorias:
- Soluções proprietárias: Desenvolvidas por empresas com licença comercial. Muitas oferecem funcionalidades avançadas, suporte técnico e integração com sistemas hospitalares. Exemplos:
- Power BI (Microsoft) – Muito utilizado em Portugal, incluindo em Unidades Locais de Saúde (ULS), permite integração com Excel, SQL Server, entre outros.
- Tableau (Salesforce) – Popular em instituições internacionais, usado para criar dashboards interativos em tempo real.
- QlikView / Qlik Sense – Conhecido pela sua rapidez na análise de grandes volumes de dados.
- Soluções open-source: Ferramentas gratuitas e de código aberto, que permitem personalização total e integração com ambientes técnicos específicos. Exemplos:
- Metabase – Simples de usar e muito adequado para equipas técnicas internas.
- Grafana – Bastante usado em ambientes técnicos e para monitorização contínua.
- Superset (Apache) – Adotado em projetos com grandes volumes de dados.
Critérios de escolha e integração
A escolha do software deve considerar:
- Compatibilidade com o sistema de RSE em uso (ex.: SClínico, SONHO, Alert®)
- Capacidade de integração com serviços web, HL7/FHIR, APIs
- Segurança e compliance (RGPD, acessos por perfil)
- Usabilidade e acessibilidade por diferentes tipos de profissionais
- Capacidade de escalabilidade (instituições de grande dimensão)
Avaliação e Boas Práticas no Desenvolvimento de Dashboards
Avaliação da Qualidade de Dashboards
A avaliação de um dashboard deve considerar critérios técnicos, funcionais e ergonómicos. Diversos modelos têm sido propostos na literatura, como o GUIDE-M (Guidelines for Developing Dashboards in Medicine), que recomenda:
- Utilidade: O dashboard responde às necessidades dos seus utilizadores?
- Usabilidade: É fácil de navegar e interpretar?
- Atualização: Os dados são atualizados com frequência e fiabilidade?
- Visualização eficaz: As representações gráficas facilitam a compreensão?
- Integração: O dashboard comunica bem com outros sistemas (ex. RSE)?
- Segurança e privacidade: Estão assegurados os princípios do RGPD?
- Além disso, métodos como testes de utilizadores, entrevistas, checklists heurísticos e indicadores de desempenho (ex. tempo até à decisão) ajudam a validar a eficácia dos dashboards em ambiente real.
Boas Práticas no Desenvolvimento
- Centrado no Utilizador Fina
- Envolver médicos, enfermeiros, gestores ou farmacêuticos desde a fase de conceção.
- Adaptar a complexidade e o tipo de dados ao perfil do utilizador (ex.: clínico vs. gestor).
2. Simplicidade e Clareza
• Evitar sobrecarga de informação ("data overload").
• Utilizar cores com propósito (ex.: verde para normal, vermelho para alerta).
• Gráficos simples e com rótulos claros.
3. Hierarquia Visual
• Destacar os KPIs principais com maior relevo.
• Agrupar informações relacionadas de forma lógica (ex.: secções clínicas, operacionais).
4. Atualização Regular
• Garantir sincronização automática com os sistemas de origem (ex.: base de dados hospitalar, RSE).
• Indicar data/hora da última atualização.
5. Interatividade
• Permitir filtragem por datas, unidades, profissionais ou grupos de doentes.
• Ferramentas de drill-down para explorar detalhes quando necessário.
6. Testes e Iterações
• Fazer protótipos simples (ex.: em Excel ou papel) antes da implementação final.
• Recolher feedback iterativo de utilizadores reais.
• Medir impacto com indicadores objetivos (ex.: tempo de resposta, melhoria de indicadores clínicos).