Preservação Digital: diferenças entre revisões
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Edição atual desde as 15h00min de 6 de janeiro de 2016
A informação em formato papel pode durar séculos, escondida numa sala seca e escura. Mas quando falamos de informação digital, já não é bem assim.
De facto, a "sobrevivência" da informação digital depende da intervenção humana. Os métodos tradicionais de preservação já não são eficientes.
Mas há formas de preservar a informação em formato digital. Este conjunto de técnicas denomina-se: Preservação Digital.
O que é a Preservação Digital?
A essência da preservação é o uso de recursos humanos, técnicos e tecnológicos na correta proteção de recursos informacionais.
Assim sendo, a preservação digital (PD) é o conjunto de atividades e processos que garantem o acesso contínuo e permanente a informação digital.
A PD torna possível que a informação em formato digital continue acessível e interpretável no futuro, mesmo fazendo uso de tecnologias diferentes da originalmente usada na sua criação.
A preservação digital envolve a preservação tanto do "objeto físico" como do "objeto informacional", isto é, do suporte e do conteúdo.
Isto significa, então, que as técnicas de preservação devem ser capazes de compreender e recriar a forma e/ou função original da informação a preservar, por forma a garantir a sua autenticidade e acessibilidade.
Desafios da Preservação Digital
- Falta de espaço, mas volumes enormes de informação:
- A implementação constante de novas tecnologias resulta na incapacidades das instituições de "pegar" na informação que têm em formatos "físicos" e passá-la para formatos digitais, por forma a libertar espaço de armazenamento. Como resultado, a informação pode ser encontrada nos mais diversos formatos e nos mais diversos locais, o que dificulta imenso a sua preservação e, obviamente, o seu acesso.
- Informação digital produzida a um ritmo crescente, que em muito ultrapassa a capacidade dos gestores de informação de gerir;
- Heterogeneidade da informação digital torna inadequadas as "tradicionais" técnicas de preservação digital para muitos tipos;
- Falta de estratégias para preservar bases de dados dinâmicas, websites complexos, ferramentas analíticas ou software no futuro alargado;
- Garantir a interoperabilidade da informação preservada:
- O arquivo e preservação de informação em formato digital implica a gestão da fragmentação de responsabilidades e a enorme variedade de sistemas para uma ainda maior variedade de formatos dentro de uma única organização (exemplos: relatórios laboratoriais, imagens Raio-X, registos registos de saúde eletrónicos, etc.). Esta informação deve ser integrada.
- Obsolescência tecnológica:
- A tecnologia não pára de evoluir (e a um ritmo cada vez mais rápido) e mesmo a mais popular hoje ficará eventualmente datada e será descartada. No entanto, é necessário preservar o conteúdo (também aqui, garantir a interoperabilidade é um desafio).
- Desaparecimento dos custodiadores da informação (extinção ou absorção de serviços e mesmo de instituições de saúde);
- Incapacidade dos utilizadores de fazerem uso ou de compreenderem a informação preservada;
- Perda de poder probatório da informação por incerteza da sua origem e autenticidade;
- Impossibilidade de acesso à informação;
- Desrespeito pelas restrições de acesso e uso da informação preservada.
É necessário desenvolver modelos de decisão que auxiliem na escolha das melhores estratégias de preservação e na avaliação custo-benefício dos vários níveis de descrição e metadados.
A falta de normas e as especificações de metadados precisam, igualmente, de ser geridas para garantir o sucesso da preservação digital.
A própria preservação digital deve evoluir por forma a acompanhar os novos desenvolvimentos e satisfazer as necessidades que daí surgem.
Modelos que suportam a Preservação Digital
Na esperança de facilitar o processo de PD, existem uma série de tentativas de criação de normas, ferramentas, estratégias e modelos.
Estratégias de Preservação Digital
Existem diversas estratégias de PD que começaram a ser desenvolvidas assim que a PD se tornou numa realidade, mas nenhuma dessas estratégias satisfaz todas as necessidades e exigências de todos os objetos de informação digital.
Os responsáveis pela gestão e preservação da informação digital precisam ser capazes de avaliar as estratégias disponíveis e adotar a(s) que melhor se adequa(m) à coleção a preservar, às necessidades dos seus utilizadores e aos objetivos das instituições a que pertence.
Preservação da Tecnologia
Esta é uma das primeiras estratégias de PD desenvolvidas e consiste na preservação de todo e qualquer hardware e software necessário ao uso dos objetos digitais.
- Vantagens:
- maior fiabilidade no uso do objeto;
- Desvantagens:
- dificuldade na gestão do espaço físico e da operacionalidade
- não é útil a longo prazo (obsolescência tecnológica)
- a informação fica confinada a um local específico no mundo
Refrescamento (Refreshing)
É a transferência da informação contida num determinado objeto digital para um formato mais recente.
- Vantagens:
- aborda diretamente o problema da obsolescência tecnológica
- Desvantagens:
- não consiste numa técnica por si só; é, antes, um requisito de uma boa estratégia de preservação digital
Emulação (Emulation)
Estratégia que implica a construção de um emulador capaz de imitar/reproduzir o hardware e/ou software original numa plataforma diferente que, à partida, não seria compatível.
- Vantagens:
- preserva corretamente as características e as funcionalidades do objeto original
- Desvantagens:
- o software original pode conter bugs ou vírus que podem por em risco a integridade da informação e até mesmo levar à perda do conteúdo
- a criação de emuladores requer conhecimento muito específico que pode ser dispendioso e difícil de encontrar
- maus emuladores podem causar a perda da informação
- também os emuladores são alvo de obsolescência tecnológica
Migração/Transformação
A migração envolve a transferência periódica da informação digital de um formato tecnológico para outro mais recente.
- Vantagens:
- foca-se na preservação do conteúdo intelectual dos objetos digitais
- permite uma maior facilidade no acesso ao conteúdo
- Desvantagens:
- algumas propriedades da informação podem ser indevidamente transferidas
- o suporte para o qual é migrada a informação está sujeito a obsolescência tecnológica
A migração pode ser aplicada diretamente ao objeto inicial, em vez de a uma versão mais recente.
- Vantagens:
- se uma migração tiver erros, estes podem ser resolvidos no futuro
Esta técnica pode, ainda, ser feita com recurso a serviços de conversão remotos, disponíveis na Internet.
- Vantagens:
- assegura a fiabilidade dos sistemas de informação
- resiste ao desaparecimento de conversores convencionais
- é compatível com outras técnicas de PD
- pode levar à redução dos custos da preservação digital
- Desvantagens:
- segurança dos dados e períodos de transferência podem comprometer esta técnica
Migração para Suporte Analógico
Objetos digitais podem, também, ser transferidos para formatos analógicos, como o papel, por exemplo.
- Vantagens:
- suportes analógicos não estão sujeitos a obsolescência tecnológica
- Desvantagens
- objetos dinâmicos, multimédia ou interativos não podem ser preservados desta forma
Versionamento (Versioning)
Esta é a técnica mais utilizada. Consiste na transferência da informação de um objeto digital para uma versão mais recente desse mesmo suporte.
- Vantagens:
- consiste na atualização do suporte original
- Desvantagens
- as entidades e/ou marcas que produzem novas versões do suporte podem deixar de o fazer
O uso de formatos independentes do software, isto é, formatos interoperáveis, como é o caso do PDF, JPEG ou TIFF, pode prevenir a disrupção.
Normalização/Standardização
O principal objetivo desta técnica é limitar o número de formatos num repositório digital.
Para que tal aconteça, é preciso garantir que a estrutura e o formato dos ficheiros que suportam a informação seguem a mesma norma.
- Vantagens:
- promove a interoperabilidade entre diferentes sistemas e repositórios
- diferentes configurações de software são capazes de interpretar formatos abertos e independentes
Encapsulamento
Permite que a informação digital, no seu suporte original, se mantenha intacta até ao momento em que for necessário aceder-lhe.
Mas, para que esta técnica seja bem sucedida, é preciso garantir que toda a informação sobre como aceder e utilizar o objeto digital (metadados) é preservada com o mesmo.
Porquê preservar?
Independentemente das falhas que existam nas estratégias de PD e dos grandes desafios que lhe estão associados, só assim se pode garantir que a informação produzida hoje continuará acessível no futuro.
A informação em saúde oferece excelentes oportunidades para o desenvolvimentos dos Sistemas de Apoio à Decisão e para a melhoria contínua da prestação de cuidados de saúde. De facto, o acesso a esta informação pode, em situações críticas, fazer a diferença entre a vida e a morte, pelo que garantir a sua preservação é absolutamente essencial.
Referências
- Retention and Destruction of Health Information. AHIMA, 2011.
- H. Besser. Digital Preservation of Moving Image Material?. AMIA Digital Longevity, Fev. 2013.
- M. Ferreira. Introdução à Preservação Digital: Conceitos, estratégias e atuais consensos. Guimarães, Portugal: Escola de Engenharia da Universidade do Minho, 2006.
- M. Ferreira, R. Saraiva, E. Rodrigues. Estado da Arte em Preservação Digital. RCAAP - Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal, Fev. 2012.
- J.L. Ogburn. The Imperative for Data Curation. Libraries and the Academy, vol.10, nº 2, Baltimore: The John Hopkins University Press, 2010.
- M. Headstrom. Research Challenges in Digital Archiving and Long-Term Preservation. NSF, 2003.
- M. Corn. Archiving the Phenome: Clinical Records Deserve Long-Term Preservation. Journal of the American Medical Informatics Association, vol. 6, nº 1, Jan.-Fev. 2009.
- J. Bote, B. Fernandez-Feijoo, S. Ruiz. The Cost of Digital Preservation: A Methodological Analysis. Procedia Technology 5, 2012.
- L.F. Sayão, L.F. Sales. Curadoria Digital: um novo patamar para a preservação de dados digitais de pesquisa. Inf. & Soc.: Est., João Pessoa, vol. 22, nº 3. Set.-Dez. 2012.
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- F. Barbedo, L. Corujo, M. Sant'Ana. Recomendações para a Produção de Planos de Preservação Digital. DGARQ, 2010.