Preservação Digital: diferenças entre revisões

Fonte: aprendis
Saltar para a navegaçãoSaltar para a pesquisa
Sem resumo de edição
 
Linha 207: Linha 207:


[[Categoria: Segurança da Informação]]
[[Categoria: Segurança da Informação]]
[[Categoria: Preservação Digital]]

Edição atual desde as 15h00min de 6 de janeiro de 2016

A informação em formato papel pode durar séculos, escondida numa sala seca e escura. Mas quando falamos de informação digital, já não é bem assim.
De facto, a "sobrevivência" da informação digital depende da intervenção humana. Os métodos tradicionais de preservação já não são eficientes.


Mas há formas de preservar a informação em formato digital. Este conjunto de técnicas denomina-se: Preservação Digital.


O que é a Preservação Digital?

A essência da preservação é o uso de recursos humanos, técnicos e tecnológicos na correta proteção de recursos informacionais.
Assim sendo, a preservação digital (PD) é o conjunto de atividades e processos que garantem o acesso contínuo e permanente a informação digital.


A PD torna possível que a informação em formato digital continue acessível e interpretável no futuro, mesmo fazendo uso de tecnologias diferentes da originalmente usada na sua criação.


A preservação digital envolve a preservação tanto do "objeto físico" como do "objeto informacional", isto é, do suporte e do conteúdo.
Isto significa, então, que as técnicas de preservação devem ser capazes de compreender e recriar a forma e/ou função original da informação a preservar, por forma a garantir a sua autenticidade e acessibilidade.


Desafios da Preservação Digital

  • Falta de espaço, mas volumes enormes de informação:
A implementação constante de novas tecnologias resulta na incapacidades das instituições de "pegar" na informação que têm em formatos "físicos" e passá-la para formatos digitais, por forma a libertar espaço de armazenamento. Como resultado, a informação pode ser encontrada nos mais diversos formatos e nos mais diversos locais, o que dificulta imenso a sua preservação e, obviamente, o seu acesso.
  • Informação digital produzida a um ritmo crescente, que em muito ultrapassa a capacidade dos gestores de informação de gerir;
  • Heterogeneidade da informação digital torna inadequadas as "tradicionais" técnicas de preservação digital para muitos tipos;
  • Falta de estratégias para preservar bases de dados dinâmicas, websites complexos, ferramentas analíticas ou software no futuro alargado;
  • Garantir a interoperabilidade da informação preservada:
O arquivo e preservação de informação em formato digital implica a gestão da fragmentação de responsabilidades e a enorme variedade de sistemas para uma ainda maior variedade de formatos dentro de uma única organização (exemplos: relatórios laboratoriais, imagens Raio-X, registos registos de saúde eletrónicos, etc.). Esta informação deve ser integrada.
  • Obsolescência tecnológica:
A tecnologia não pára de evoluir (e a um ritmo cada vez mais rápido) e mesmo a mais popular hoje ficará eventualmente datada e será descartada. No entanto, é necessário preservar o conteúdo (também aqui, garantir a interoperabilidade é um desafio).
  • Desaparecimento dos custodiadores da informação (extinção ou absorção de serviços e mesmo de instituições de saúde);
  • Incapacidade dos utilizadores de fazerem uso ou de compreenderem a informação preservada;
  • Perda de poder probatório da informação por incerteza da sua origem e autenticidade;
  • Impossibilidade de acesso à informação;
  • Desrespeito pelas restrições de acesso e uso da informação preservada.


É necessário desenvolver modelos de decisão que auxiliem na escolha das melhores estratégias de preservação e na avaliação custo-benefício dos vários níveis de descrição e metadados.
A falta de normas e as especificações de metadados precisam, igualmente, de ser geridas para garantir o sucesso da preservação digital.
A própria preservação digital deve evoluir por forma a acompanhar os novos desenvolvimentos e satisfazer as necessidades que daí surgem.


Modelos que suportam a Preservação Digital

Na esperança de facilitar o processo de PD, existem uma série de tentativas de criação de normas, ferramentas, estratégias e modelos.


Estratégias de Preservação Digital

Existem diversas estratégias de PD que começaram a ser desenvolvidas assim que a PD se tornou numa realidade, mas nenhuma dessas estratégias satisfaz todas as necessidades e exigências de todos os objetos de informação digital.
Os responsáveis pela gestão e preservação da informação digital precisam ser capazes de avaliar as estratégias disponíveis e adotar a(s) que melhor se adequa(m) à coleção a preservar, às necessidades dos seus utilizadores e aos objetivos das instituições a que pertence.

Preservação da Tecnologia

Esta é uma das primeiras estratégias de PD desenvolvidas e consiste na preservação de todo e qualquer hardware e software necessário ao uso dos objetos digitais.

Vantagens:
maior fiabilidade no uso do objeto;
Desvantagens:
dificuldade na gestão do espaço físico e da operacionalidade
não é útil a longo prazo (obsolescência tecnológica)
a informação fica confinada a um local específico no mundo


Refrescamento (Refreshing)

É a transferência da informação contida num determinado objeto digital para um formato mais recente.

Vantagens:
aborda diretamente o problema da obsolescência tecnológica
Desvantagens:
não consiste numa técnica por si só; é, antes, um requisito de uma boa estratégia de preservação digital


Emulação (Emulation)

Estratégia que implica a construção de um emulador capaz de imitar/reproduzir o hardware e/ou software original numa plataforma diferente que, à partida, não seria compatível.

Vantagens:
preserva corretamente as características e as funcionalidades do objeto original
Desvantagens:
o software original pode conter bugs ou vírus que podem por em risco a integridade da informação e até mesmo levar à perda do conteúdo
a criação de emuladores requer conhecimento muito específico que pode ser dispendioso e difícil de encontrar
maus emuladores podem causar a perda da informação
também os emuladores são alvo de obsolescência tecnológica


Migração/Transformação

A migração envolve a transferência periódica da informação digital de um formato tecnológico para outro mais recente.

Vantagens:
foca-se na preservação do conteúdo intelectual dos objetos digitais
permite uma maior facilidade no acesso ao conteúdo
Desvantagens:
algumas propriedades da informação podem ser indevidamente transferidas
o suporte para o qual é migrada a informação está sujeito a obsolescência tecnológica


A migração pode ser aplicada diretamente ao objeto inicial, em vez de a uma versão mais recente.

Vantagens:
se uma migração tiver erros, estes podem ser resolvidos no futuro


Esta técnica pode, ainda, ser feita com recurso a serviços de conversão remotos, disponíveis na Internet.

Vantagens:
assegura a fiabilidade dos sistemas de informação
resiste ao desaparecimento de conversores convencionais
é compatível com outras técnicas de PD
pode levar à redução dos custos da preservação digital
Desvantagens:
segurança dos dados e períodos de transferência podem comprometer esta técnica


Migração para Suporte Analógico

Objetos digitais podem, também, ser transferidos para formatos analógicos, como o papel, por exemplo.

Vantagens:
suportes analógicos não estão sujeitos a obsolescência tecnológica
Desvantagens
objetos dinâmicos, multimédia ou interativos não podem ser preservados desta forma


Versionamento (Versioning)

Esta é a técnica mais utilizada. Consiste na transferência da informação de um objeto digital para uma versão mais recente desse mesmo suporte.

Vantagens:
consiste na atualização do suporte original
Desvantagens
as entidades e/ou marcas que produzem novas versões do suporte podem deixar de o fazer


O uso de formatos independentes do software, isto é, formatos interoperáveis, como é o caso do PDF, JPEG ou TIFF, pode prevenir a disrupção.


Normalização/Standardização

O principal objetivo desta técnica é limitar o número de formatos num repositório digital.
Para que tal aconteça, é preciso garantir que a estrutura e o formato dos ficheiros que suportam a informação seguem a mesma norma.

Vantagens:
promove a interoperabilidade entre diferentes sistemas e repositórios
diferentes configurações de software são capazes de interpretar formatos abertos e independentes


Encapsulamento

Permite que a informação digital, no seu suporte original, se mantenha intacta até ao momento em que for necessário aceder-lhe.
Mas, para que esta técnica seja bem sucedida, é preciso garantir que toda a informação sobre como aceder e utilizar o objeto digital (metadados) é preservada com o mesmo.


Porquê preservar?

Independentemente das falhas que existam nas estratégias de PD e dos grandes desafios que lhe estão associados, só assim se pode garantir que a informação produzida hoje continuará acessível no futuro.


A informação em saúde oferece excelentes oportunidades para o desenvolvimentos dos Sistemas de Apoio à Decisão e para a melhoria contínua da prestação de cuidados de saúde. De facto, o acesso a esta informação pode, em situações críticas, fazer a diferença entre a vida e a morte, pelo que garantir a sua preservação é absolutamente essencial.


Referências

  • Retention and Destruction of Health Information. AHIMA, 2011.
  • H. Besser. Digital Preservation of Moving Image Material?. AMIA Digital Longevity, Fev. 2013.
  • M. Ferreira. Introdução à Preservação Digital: Conceitos, estratégias e atuais consensos. Guimarães, Portugal: Escola de Engenharia da Universidade do Minho, 2006.
  • M. Ferreira, R. Saraiva, E. Rodrigues. Estado da Arte em Preservação Digital. RCAAP - Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal, Fev. 2012.
  • J.L. Ogburn. The Imperative for Data Curation. Libraries and the Academy, vol.10, nº 2, Baltimore: The John Hopkins University Press, 2010.
  • M. Headstrom. Research Challenges in Digital Archiving and Long-Term Preservation. NSF, 2003.
  • M. Corn. Archiving the Phenome: Clinical Records Deserve Long-Term Preservation. Journal of the American Medical Informatics Association, vol. 6, nº 1, Jan.-Fev. 2009.
  • J. Bote, B. Fernandez-Feijoo, S. Ruiz. The Cost of Digital Preservation: A Methodological Analysis. Procedia Technology 5, 2012.
  • L.F. Sayão, L.F. Sales. Curadoria Digital: um novo patamar para a preservação de dados digitais de pesquisa. Inf. & Soc.: Est., João Pessoa, vol. 22, nº 3. Set.-Dez. 2012.
  • E. Smit, J. Van Der Hoeven, D. Giaretta. Avoiding a Digital Dark Age for Data: why publishers should care about digital preservation. Learned Publishing, vol. 24, nº 1, Jan. 2011.
  • F. Barbedo, L. Corujo, M. Sant'Ana. Recomendações para a Produção de Planos de Preservação Digital. DGARQ, 2010.