DashBoards (Contexto em Saúde)

Fonte: aprendis
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Os dashboards em saúde são ferramentas visuais interativas concebidas para apresentar dados clínicos, administrativos ou operacionais de forma integrada e acessível. Utilizados por profissionais de saúde, gestores hospitalares e autoridades de saúde pública, estes sistemas permitem identificar tendências, antecipar riscos e tomar decisões fundamentadas em tempo útil, ao condensarem grandes volumes de informação em representações gráficas intuitivas. Estes painéis são especialmente úteis em contextos onde a rapidez na análise e interpretação dos dados pode impactar diretamente a qualidade dos cuidados prestados, como na monitorização de surtos epidemiológicos, no acompanhamento de doentes crónicos ou na gestão de recursos hospitalares. Com a crescente digitalização dos sistemas de informação em saúde, os dashboards assumem um papel cada vez mais central na promoção de eficiência, transparência e segurança, tanto a nível clínico como institucional.

O que são Dashboards?

Um dashboard, ou painel de controlo, é uma interface visual interativa que permite visualizar, de forma clara e sintética, um conjunto de dados relevantes para a monitorização de processos, atividades ou sistemas. Através da utilização de gráficos, indicadores e outros elementos visuais, os dashboards facilitam a análise rápida de informação, apoiando a tomada de decisões fundamentadas e em tempo útil.

O termo dashboard tem origem na metáfora dos painéis de instrumentos dos automóveis, concebidos para fornecer ao condutor informações essenciais de forma rápida e acessível. Este conceito foi adaptado nas áreas da gestão e, mais tarde, da informática, para descrever ferramentas que agregam dados provenientes de diversas fontes, transformando-os em informação útil e aplicável.

Com o avanço das tecnologias de informação, especialmente a partir da década de 1990, os dashboards passaram a integrar sistemas de business intelligence (BI), permitindo às organizações monitorizar em tempo real o seu desempenho e identificar padrões, riscos ou oportunidades. No setor da saúde, esta evolução ganhou particular relevância devido à elevada complexidade dos dados clínicos e operacionais, e à necessidade de decisões precisas e informadas.

Aplicados ao contexto da saúde, os dashboards oferecem uma visão integrada e dinâmica de informação proveniente de Registos de Saúde Eletrónicos (RSE), sistemas de gestão hospitalar, bases de dados epidemiológicas ou plataformas institucionais. Esta capacidade de síntese e visualização torna os dashboards ferramentas fundamentais para profissionais de saúde, gestores e decisores políticos.

Os dashboards são compostos por vários elementos essenciais que facilitam a apresentação clara e a interpretação rápida dos dados. Estes componentes trabalham juntos para oferecer uma experiência de visualização eficiente e prática:

  • Gráficos (de linhas, barras, setores, dispersão, etc.)
  • Tabelas dinâmicas
  • KPIs (Key Performance Indicators) – Indicadores-chave de desempenho
  • Filtros interativos (por data, unidade, patologia, etc.)

(IMAGENS EXEMPLOS DASHBOARDS)

Os dashboards podem ainda ser classificados de acordo com o seu objetivo e nível de análise em:

  • Dashboards operacionais – Focados na monitorização em tempo real de atividades diárias.
  • Dashboards analíticos – Destinados à análise de tendências ou correlações ao longo do tempo.
  • Dashboards estratégicos – Utilizados por gestores e decisores para avaliar o desempenho global da instituição, definir prioridades e apoiar o planeamento a longo prazo.

A eficácia de um dashboard depende tanto da qualidade dos dados apresentados como da clareza e usabilidade da interface. O seu design deve permitir uma leitura intuitiva, rápida e orientada à ação.

Importância no Contexto Clínico

Num setor como a saúde, onde as decisões podem ter impacto direto na vida dos doentes, a acessibilidade rápida e clara à informação é fundamental. Neste âmbito, os dashboards surgem como instrumentos que facilitam a leitura e interpretação de dados clínicos e operacionais, apoiando profissionais de saúde, gestores e decisores de todos os níveis do sistema.

No contexto clínico, dashboards bem concebidos possibilitam:

  • Acompanhamento em tempo real do estado clínico de um doente (ex.: sinais vitais, resultados laboratoriais, alertas de risco);
  • Monitorização de parâmetros de segurança e qualidade, como taxas de infeção hospitalar, tempos de internamento ou eventos adversos;
  • Apoio à gestão de doenças crónicas, integrando dados de consultas, exames e dispositivos móveis ou wearables.

No plano institucional, são utilizados para:

  • Gerir fluxos assistenciais, otimizar recursos humanos e materiais;
  • Analisar indicadores de desempenho assistencial e financeiro;
  • Planear estratégias com base em dados reais, promovendo a transparência e a responsabilidade.


Nas Unidades Locais de Saúde (ULS) em Portugal, os dashboards são cada vez mais comuns e integrados nos sistemas como o BI-CSP ( Business Intelligence Cuidados de Saúde Primários) ou nos painéis de controlo internos de hospitais, centros de saúde e agrupamentos. Estas plataformas permitem a monitorização diária de indicadores assistenciais e operacionais, promovendo uma cultura de gestão baseada em dados.

Durante a pandemia de COVID-19, o papel dos dashboards foi amplamente reforçado. Foram desenvolvidas plataformas públicas e institucionais que permitiram acompanhar:

  • Número de casos confirmados, internamentos e óbitos;
  • Ocupação de camas em enfermaria e cuidados intensivos;
  • Consumo de equipamentos de proteção individual e testes;
  • Evolução da vacinação por faixa etária e região.

Este tipo de ferramentas é hoje reconhecido como essencial para uma governação clínica moderna, apoiando a eficiência, a segurança do doente e a melhoria contínua da qualidade dos cuidados de saúde.

Dashboard Software

Os softwares de dashboard são ferramentas digitais que permitem criar, visualizar e interagir com painéis de controlo dinâmicos, agregando e representando dados de múltiplas fontes de forma gráfica e acessível. Em contexto clínico, estes sistemas são integrados com Registos de Saúde Eletrónicos (RSE), bases de dados hospitalares ou plataformas de business intelligence, permitindo o acesso em tempo real a métricas clínicas, operacionais e financeiras.

Tipos de Soluções

As soluções de software para dashboards em saúde podem ser classificadas em duas grandes categorias:

  • Soluções proprietárias: Desenvolvidas por empresas com licença comercial. Muitas oferecem funcionalidades avançadas, suporte técnico e integração com sistemas hospitalares. Exemplos:
    • Power BI (Microsoft) – Muito utilizado em Portugal, incluindo em Unidades Locais de Saúde (ULS), permite integração com Excel, SQL Server, entre outros.
    • Tableau (Salesforce) – Popular em instituições internacionais, usado para criar dashboards interativos em tempo real.
    • QlikView / Qlik Sense – Conhecido pela sua rapidez na análise de grandes volumes de dados.
  • Soluções open-source: Ferramentas gratuitas e de código aberto, que permitem personalização total e integração com ambientes técnicos específicos. Exemplos:
    • Metabase – Simples de usar e muito adequado para equipas técnicas internas.
    • Grafana – Bastante usado em ambientes técnicos e para monitorização contínua.
    • Superset (Apache) – Adotado em projetos com grandes volumes de dados.

Critérios de escolha e integração

A escolha do software deve considerar:

  • Compatibilidade com o sistema de RSE em uso (ex.: SClínico, SONHO, Alert®)
  • Capacidade de integração com serviços web, HL7/FHIR, APIs
  • Segurança e compliance (RGPD, acessos por perfil)
  • Usabilidade e acessibilidade por diferentes tipos de profissionais
  • Capacidade de escalabilidade (instituições de grande dimensão)

Avaliação e Boas Práticas no Desenvolvimento de Dashboards

Avaliação da Qualidade de Dashboards

A avaliação de um dashboard deve considerar critérios técnicos, funcionais e ergonómicos. Diversos modelos têm sido propostos na literatura, como o GUIDE-M (Guidelines for Developing Dashboards in Medicine), que recomenda:

  • Utilidade: O dashboard responde às necessidades dos seus utilizadores?
  • Usabilidade: É fácil de navegar e interpretar?
  • Atualização: Os dados são atualizados com frequência e fiabilidade?
  • Visualização eficaz: As representações gráficas facilitam a compreensão?
  • Integração: O dashboard comunica bem com outros sistemas (ex. RSE)?
  • Segurança e privacidade: Estão assegurados os princípios do RGPD?
  • Além disso, métodos como testes de utilizadores, entrevistas, checklists heurísticos e indicadores de desempenho (ex. tempo até à decisão) ajudam a validar a eficácia dos dashboards em ambiente real.

Boas Práticas no Desenvolvimento

1. Centrado no Utilizador Final
  • Envolver médicos, enfermeiros, gestores ou farmacêuticos desde a fase de conceção.
  • Adaptar a complexidade e o tipo de dados ao perfil do utilizador (ex.: clínico vs. gestor).
2. Simplicidade e Clareza
  • Evitar sobrecarga de informação ("data overload").
  • Utilizar cores com propósito (ex.: verde para normal, vermelho para alerta).
  • Gráficos simples e com rótulos claros.
3. Hierarquia Visual
  • Destacar os KPIs principais com maior relevo.
  • Agrupar informações relacionadas de forma lógica (ex.: secções clínicas, operacionais).
4. Atualização Regular
  • Garantir sincronização automática com os sistemas de origem (ex.: base de dados hospitalar, RSE).
  • Indicar data/hora da última atualização.
5. Interatividade
  • Permitir filtragem por datas, unidades, profissionais ou grupos de doentes.
  • Ferramentas de drill-down para explorar detalhes quando necessário.
6. Testes e Iterações
  • Fazer protótipos simples (ex.: em Excel ou papel) antes da implementação final.
  • Recolher feedback iterativo de utilizadores reais.
  • Medir impacto com indicadores objetivos (ex.: tempo de resposta, melhoria de indicadores clínicos).